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Os autores deste site são motivados pelo prazer e benefícios que resultarão do intercâmbio de idéias, de informações e de opiniões. Pretendem que o poder do site emane do que eleve, dignifique, e enobreça. O site versará sobre cultura, política, ciência, experiência de governo e lazer.

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Sonhos na Política

Acreditamos que é um dever cívico revelar à nossos semelhantes tudo do nosso conhecimento adquirido na feroz batalha política. É um gesto de solidariedade no sentido de permitir às pessoas realizar seus sonhos.

Sonhos na Política

Eduardo Lacerda Ramos

 

Prólogo   3

Introdução   3

Parte l  Sonhadores e Sonhos   3

1 Grandes sonhadores   4

2 Evolução do pensamento sobre sonhos na política   7

3 Forjando sonhos   7

Parte II  Sonhos, Poder e Força   17

Parte III  O que se Passa no Governo   19

1  O telefonema de Flávio

2 O telefonema do Partido

3 Encontro no Partido – “Só se respeita quem se faz respeitar”

4 Encontros com Flávio, Jackson, Pedro Torres e Jerônimo no Shopping

5 Envelope branco

6 FAPESB

7 Célia na Brooksfields

8  Posse

9  Secretaria – primeira vista

10  Flávio

11 Jerônimo e Jackson (Assessores Especiais?)

12  Pedro Torres

13  Wagner

14  Dra. Eva

15  Walter Pinheiro

16  Rui Costa

17 James

18  Afonso Florence

19  Edson Valadares

20  Pititinga

21  Silvio da UEFS

22  Silvio “Gentleman”

23  Cláudio Melo

24  Moça da China

25  FAPESB

26  Conferências de Ciência, Tecnologia e Inovação – SECTI

27  Conselho de Secretários de Ciência Tecnologia e Inovação –  CONSECTE

28  Os Ministérios

29  Centros Digitais de  Cidadania – CDC’S

30  Cidades Digitais

31 Microsoft

32  Parque Tecnológico

33  Centros Vocacionais Tecnológicos Territoriais – CVTT’S

34  Academia Baiana de Ciência – Roberto Santos e Edivaldo Boaventura

35  Núcleo de Relações Internacionais

36  Dinamarca

37  Alemanha

38  Uruguai

39  Trabalhismo

40  PDT

41 Urânio

42 Chumbo

43  Corrupção ( LOVELACE; Empresa de fármacos no Rio; BRASKEN).

44  Eleição de 2010

45 Saída da Secretaria

I Prólogo

– Qual é seu principal interesse em tratar de sonhos na política? Perguntou Arnaldo à Ed.

-Tudo vem da compaixão que se tem pelas pessoas e mesmo outros seres vivos, que não conseguem ser felizes.  Hoje, em vários países da Europa, nos EUA, no Japão, na Austrália, na Nova Zelândia, na Islândia, em Singapura, por exemplo, ampla parcela da população desfruta das oportunidades de ser feliz. Outras áreas do mundo, como a África e o Oriente Médio, ainda não conseguiram chegar lá. Diante desta preocupação sobre a felicidade,  o Brasil tem uma condição, uma experiência rica, e uma das maiores oportunidades. Darcy Ribeiro chamou muito a atenção para este nosso cabedal. Ele, como cientista e como romântico, conclui seu livro dizendo que “Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma.”

– Desta forma, Ed, você nos coloca em frente à “sonhos” e à “compaixão”! e daí?, para onde isto pode nos levar?, pergunta Arnaldo.

– A compaixão é a mais elevada forma de amor, entende Osho (2007).

– Quiçá seria um baita de um sonho ver a compaixão transformar  todo o sofrimento da humanidade, numa felicidade como a desfrutada hoje na Noruega. Seria um sonho onde a compaixão perpassaria o interminável túnel dos padecimentos, chegando ao vale da felicidade.

No mundo dos homens a política tem determinado o caminho, o sorriso e o choro, comenta Arnaldo. – Qual o caminho que devemos escolher para conseguirmos a felicidade de todos?

 

II Introdução

Na Parte I deste trabalho damos algumas pinceladas sobre sonhadores ao longo da história e sobre a natureza dos sonhos na política. Seus sonhos frequentemente dirigiram e tumultuaram a vida de todos os humanos sobre a terra.

Na Parte II comentamos  o caminho ou os caminhos políticos por onde temos trilhado ; como e porque acertamos ou erramos nas escolhas; e quais as consequências, explica Ed. Os relatos dos acontecimentos, atos e fatos, que ocorreram conosco no âmbito do governo e fora dele, serão feitos da forma mais direta e simples na Parte III. Validaremos os pontos de vista, convicções, vieses e humores que tínhamos nos momentos em que os acontecimentos se desdobraram.  Torcemos que eles permitam se pescar, ou melhor, revelar, a verdade contida nos cenários daquele cotidiano e que acabam se refletindo no destino de todos.

 

Parte I   Sonhadores e Sonhos

1  Grandes Sonhadores

 

Arnaldo indagou à Ed : – não seria interessante saber o que é que tem a ver os sonhos com a política? -Sim, retorquiu Ed, sonhos e seus companheiros, como as representações sociais,  a magia, religião, a alquimia, os mitos, as artes, as fantasias, etc., têm mexido com a cabeça do homem desde tempos imemoriais, inclusive na política.

Felipe da Macedônia teve o sonho de construir um Império Macedônico, que levou Alexandre o Grande a criar, pelas armas, o maior Império de todos os tempos, abrangendo grandes extensões da Europa, da Ásia e da África. A inculta Macedônia tinha a vantagem inicial de um exército fortalecido em duras guerras regionais. Inebriado com a cultura Grega durante seu exílio na Grécia, Felipe construiu o sonho de, num primeiro momento, somar o potencial militar da Macedônia com a força da cultura Grega, e num segundo, partir para a conquista do Império Persa. Seu filho Alexandre O Grande conseguiu realizar esse sonho (Wikipédia, Felipe ll da Macedônia).

Napoleão Bonaparte sonhou formar um grande império na Europa. No início do século dezenove (1807) dominava uma área maior do que a do Império de Carlos Magno.

Fidel Castro sonhou uma Cuba Livre. Cuba vem sofrendo o boicote do poderoso inimigo do norte, há mais de sessenta anos.

Getúlio Vargas sonhou transformar o Brasil numa potência industrial. Criou a Petrobrás e tomou várias outra iniciativas nesta direção.

Hitler sonhou em criar um império mundial germânico.  “ Só que este sonho resultou na segunda guerra mundial e na morte de cinquenta milhões de pessoas”, ironizou Arnaldo.

Brizola e Darcy Ribeiro sonharam valorizar o futuro das crianças e do Brasil, através da educação ( Centros Integrados de Educação Popular – CIEPS ). “Só que a poderosa elite brasileira interferiu, e ditou que os CIEPS eram “muito caros”, arrematou Arnaldo.

Martin Luther King, Mandela, e Che Guevara sonharam com a igualdade, e Cristo sonhou o divino sonho de paz e do amor entre os homens.

Vários deles perderam o poder e/ou a vida em condições dramáticas, mortos por assassinato ou por suicídio. Em última análise, alguns foram vítimas dos seus sonhos. Que o digam Alexandre, Napoleão, Hitler, Getúlio Vargas, e tantos outros.

Por outro lado, suas lutas resultaram em grandes avanços para a humanidade; -também sonhos têm levado muitas pessoas a finais felizes, observou Arnaldo. -Por exemplo, europeus sonharam e lutaram, por décadas, por uma Europa unida e forte econômica e politicamente. Já andaram um bom caminho nesta direção.

 

2 Evolução do Pensamento sobre O Sonho na Política

Arnaldo tem a mania de questionar as pessoas sobre a origem, a razão e o propósito das coisas. – O que faz um sonho dar certo ou dar errado?

-Qual foi o sonho do PT? Uma República Sindicalista? Um sistema socialista?  Alguém diria que foi um Brasil como está agora?

Ed arriscou dizer que provavelmente os sonhos são como a tempestade em formação. Pode acontecer ou se dissipar. Entretanto, o significado dos sonhos, tanto para a pessoa humana individualmente como coletivamente, tem se revelado e evoluído através de formas imemoriais de conhecimento, como a magia, até à ciência da psicologia, criada a partir do século XX.

Por toda a história da humanidade a magia “aspirou desvendar, conhecer e usar o que presumivelmente estaria oculto aos sentidos ( cognição ),  fora da percepção sensorial clássica, da lógica, da razão e do critério;  inversamente, a teologia, a filosofia e as ciências ortodoxas, procuram conhecer as causas” (es.Wikipédia,org/wiki/Magia). Os povos da antiguidade acreditavam na razão posta a serviço dos deuses ou dos deuses monarcas ( concepção mítica ou consolidada pela tradição, do mundo ),  conceito que evoluiu com os gregos a partir do século VI aC passando-se a acreditar na razão voltada para o interesse do homem.

Arnaldo comentou que o homem comum do povo procura tirar proveito da interpretação dos sonhos, como no caso da busca de números para apostar em loterias. O próprio Arnaldo ganhou alguns milhares de reais apostando o número da placa do fusca do seu irmão, no jogo do bicho. Mas não somente as pessoas do povão têm um gosto pelas forças ocultas, acrescentou Ed. – Sabe-se que desde a Idade Antiga, membros da elite intelectual, como Pitágoras e Platão, foram considerados como Magos (es.Wikipédia.org/wiki/Magia)  – Mais para perto de nós, o saudoso médico cirurgião e espírita baiano, Dr. Fernando Filgueiras, foi  exaltado como o “mago do bisturi”; sem se precisar falar de Chico Xavier !

Carlos Castaneda nos levou a quase que vivenciar o mundo mágico de sonhos dos Toltecas. Trata-se de todo um aprendizado para chegar a interagir com uma realidade diferente da nossa, fora da nossa percepção ordinária (Sánchez, 1997).

– O mundo de Castaneda pode nos ajudar a evoluir no entendimento dos sonhos na política?, observa Arnaldo.

Castaneda penetrou na sabedoria dos xamãs aprendendo com o índio xamãn Dom Juan Matus, pertencente a uma linhagem advinda da antiguidade no México. A realidade diferente da nossa, conforme o aprendizado de Castaneda, significa ou significaria que não estamos inexoravelmente aprisionados aos termos de referência da nossa civilização ou do nosso mundo.

–  Finalmente se quisermos entender o papel dos sonhos na política no mundo atual, que caminho podemos seguir?, indagou Arnaldo.

– Para começar podemos considerar a evolução do pensamento humano, recordando o significado do movimento intelectual denominado Iluminismo, retorquiu Ed, sonhado e desenvolvido na Europa durante o século XVIII, por isso denominado século das luzes. Alguns pontos altos do movimento foram: as contribuições dos filósofos Baruck Spinoza , John Locke e Pierre Bayle e do matemático Isaac Newton; a Enciclopédia, composta de 35 volumes escritos por centenas de intelectuais como Diderot, Voltaire e Montesquieu; e as influências do movimento sobre Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, a Revolução Americana, a Declaração da Independência dos Estados Unidos; e a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão,  etc..

O Iluminismo representou uma transformação da mentalidade medieval essencialmente espiritualista/ religiosa para o pensamento racionalista da era moderna.

O racionalismo é uma doutrina filosófica desenvolvida desde a antiguidade ( século I a. C. ) chegando  à era moderna com as contribuições de filósofos como Spinosa, Descarte, e Leibniz;  considera que o conhecimento resulta da razão; e gerou o método científico.

– Não podemos deixar de frisar que o método científico veio a ser o principal instrumento de todo o progresso da humanidade. A psicologia, por exemplo, surgiu em boa parte através da utilização do método científico ao estudo dos sonhos.

– Podemos afirmar que o progresso da sociedade se deve ao pensamento e ação dos homens motivados pelos seus sonhos?, provocou Arnaldo. –  Acredito na força da motivação criada e impulsionada por sonhos. A ciência da psicologia tem penetrado nas profundezas da mente humana desvendando e esclarecendo seus mistérios. Ela explica que, partindo do nosso inconsciente,  o sonho expressa desejos reprimidos ( Freud ), ou compensação para a psique ( Carl Jung ).

– Seria esclarecedor estabelecermos , neste ponto, um conceito técnico de inconsciente, ponderou Arnaldo. Ed comenta que Carl Jung, o criador da psicologia analítica, considera o inconsciente como o campo da mente constituído por tudo que é desconhecido do nosso mundo interior. Ele distingue entre inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. Arquétipo é um conceito componente do inconsciente coletivo, que junto aos nossos instintos, encontra-se em camada mais profunda da psique constituindo uma base da mesma (Jung, 2012). Aí poderíamos buscar explicação para o comportamento mental dos atores do nosso mundo político. As  expressões populares “crack de bola” e “político descarado” podem representar inconscientes coletivos?

Puxa! Exclamou Arnaldo: – não seria mesmo interessante conhecermos o que realmente passa pela cabeça de caras como Getúlio Vargas quando se suicidou; Jânio Quadros quando renunciou à Presidência; Collor quando sequestrou a poupança do brasileiro; Joaquim Barbosa quando se deparou com o mensalão; ou mesmo o que vai nas mentes dos membros da cúpula do PT, do PMDB, e do PSDB no mundo do mensalão e do petrolão?

Ed concordou dizendo que os  conhecimentos da psicologia  baseados em conceitos tais como inconsciente, inconsciente coletivo e arquétipo, podem ajudar a esclarecer até onde os sonhos  influenciam o destino da sociedade através do comportamento dos atores da política. A Psicologia Social é o ramo da Psicologia Aplicada que se desenvolveu a partir da década de 1970, na qual podemos buscar respostas à perguntas como: por que políticos têm comportamento dúbio por vezes expondo a sociedade à situações desastrosas; ou, por outro lado, assumem posturas que resultam em mudanças revolucionárias. Através dos arquétipos poderemos estabelecer denominadores comuns para a compreensão dos nossos políticos. Por exemplo, o arquétipo do patrimonialismo poderia explicar as cabeças de muitos deles. De fato o patrimonialismo tem muito a ver com a formação da sociedade brasileira. O poder patrimonial dominou pessoas, bens materiais e o governo, como se fora uma propriedade familiar, e o grosso da população sempre foi sufocada.  O sistema de poder na sociedade brasileira, ao longo da história, sempre esteve essencialmente patrimonialista: O Governo Geral com Tomé de Souza, Duarte Coelho Pereira, e Mem de Sá, as Capitanias Hereditárias, o Império com Dom Pedro I e Dom Pedro II, e por último a Republica dos latifundiários, do capital estrangeiro e da política corrupta.

Hoje, na “Lava Jato”, quase sempre os advogados dos grandões, como Marcelo Odebrecht e Lula, reclamam de uma forma como se tivessem dizendo “vocês sabem com quem estão tratando?”.

– Também, a figura provocativa do Deputado Eduardo Cunha não poderia representar uma caricatura do patrimonialismo na vida brasileira?, indaga Arnaldo.

As Ciências Sociais e a literatura têm destrinchado este patrimonialismo, através das obras de Gilberto Freire, Hélio Jaguaribe, Nelson Werneck Sodré, Fernando Henrique Cardoso, Graciliano Ramos,  Guimarães Rosa, Jorge Amado, e vários outros, sem falar nos estrangeiros.

– Você pode, Ed, prestar um enorme serviço à nossa sociedade destrinchando a banda boa, bem como a banda podre do mundo do governo, que teve oportunidade de ver de perto, advertiu Arnaldo. Além disso, sua bagagem científica, internacional e política, subscrevem a qualidade e a utilidade das suas revelações.

– Você está sendo generoso, comentou Ed.

– De qualquer sorte uma recapitulação sobre a infância e a juventude ajudam a se entender melhor a ideologia de quem entra intensamente na política.

 

3  Forjando Sonhos

As experiências relatadas a seguir, certamente corroboraram  o desenvolvimento da ideologia política de Ed. A ideologia pode explicar a gestação de sonhos e a tomada de decisões na arena política.

O comentário de Arnaldo provocou, na mente de Ed, uma recapitulação instantânea de toda sua vida, numa sequência de acontecimentos não esquecidos, e possivelmente mais relevantes politicamente.

Arnaldo perguntou à Ed : na sua trajetória, qual o maior sonho?

– Ainda bem menino, disse Ed, fiquei profundamente impressionado com o ideal grego de “mens sana in corpore sano” – como se tivesse descoberto uma fórmula mágica para conseguir uma vida bem sucedida. A leitura de “ As Forças Morais “ e “O Homem Medíocre”, ambos de José Ingenieros, e os ensinamentos filosóficos e científicos de Affonso Ramos, meu pai, e meu tio Anibal Ramos, ambos professores da então Escola Agronômica da Bahia, em Cruz das Almas, foram mais do que suficientes como uma arrancada inicial.

Certamente, comenta Arnaldo, José Ingenieros contribuiu amplamente para a formação do pensamento latino-americano nas áreas de psicologia, psiquiatria, psicologia social, sociologia e antropologia.  –  O livro “As Forças Morais” foi dedicado à Juventude da América Latina, público destacado por Ingenieros.

– Outro sonho que se delineou bem cedo, na idade de 7 ou 8 anos , prossegue Ed, foi sobre o da oportunidade para todos. Aquela ocorrência representou um momento crucial e decisivo porquanto intensamente emocional na infância, quando pela primeira vez dei de cara com a miséria humana. Foi numa manhã de inverno em Cruz das Almas, lá pelos fundos das terras da Escola de Agronomia . Estava a casa de uma família paupérrima, casa de taipa coberta com palha de ouricuri, camas de vara; as crianças, galinhas, porcos, cachorros, ocupando o espaço do quintal, onde fezes, mal cheiro de lamaçal, compunham um quadro infernal.

Aquelas imagens calaram fundo na memória, para sempre e amarguradamente, porque havia um abismo de disparidade entre aquela situação de miséria extrema e as condições da classe média em Cruz das Almas, naquele início dos anos 50, abismo que se revelou com uma realidade cruel.

Estas impressões fortes na infância, comenta Arnaldo, causadas por situações sociais dramáticas, podem vir a fazer parte do inconsciente, e consequentemente influenciar na construção de sonhos, bem como na formação ideológica.

Ed prossegue referindo-se a outros fatos que gosta de lembrar como marcantes na sua formação política e cultural, que considera humanista e socialista, e contribuíram para a construção de seus sonhos no âmbito político.

–  A casa do meu tio Anibal, bem como a nossa, no bairro residencial dos professores da Escola Agronômica da Bahia, em Cruz das Almas, tinha o jeito de uma academia cultural, constando conversações entre estudantes e professores da Escola Agronômica, música clássica tocada em disco de vinil, e dança tipo “arrasta pé” com samba, bolero, valsa etc., e de acesso à livros de Bertrand Russel, José Ingenieros, Vargas Vila, Castro Alves, Anatole Francis, Georges Politzer, o historiador  Edward Burns, e vários outros; algumas sentenças daqueles livros sempre voltam à mente, como :

“no perpétuo fluir  do universo nada existe e tudo deriva , como enunciou o obscuro Heráclio Efésio “

“ As Forças Morais”, José Ingenieros;

“agora ou nunca, amanhã é a mentira piedosa com que se iludem as vontades moribundas”    “As Forças Morais”, José Ingenieros;

“se todo mundo soubesse o que todo mundo diz de todo mundo, ninguém falaria de ninguém”

Anatole France;

“sobretudo jamais tenhais medo, o inimigo que lhe vos faz recuar, tem medo de vós no mesmo instante”

Anatole France;

“ser sincero é estar nu; fica-se exposto a todas as intempéries. A sinceridade é uma virtude que só devemos a nós mesmos; praticá-la com os outros é um suicídio”

“Dos Vinhedos da Eternidade”, Vargas Vila;

“O Estado não vive do Direito, mas da Força; e a Força, gasta-se; o povo não conta senão com o Direito, e o Direito cresce; um dia, não muito longínquo, o Direito dará cabo da Força, e o Estado desaparecerá; a mais abominável tirania morrerá com ele”

“Dos vinhedos da Eternidade”, Vargas Vila;

“o poderio político funda-se no apoio da massa cujas ideias reinantes favorecem ao Estado … as massas podem, até certo ponto do desenvolvimento histórico, ser enganadas … quando esse apoio das massas se atenua, o Estado se enfraquece: o uso da violência sem rebuços pela classe dominante é o sinal de sua fraqueza e do seu fim próximo. As ideias que dominam as massas é que são determinantes”

“Princípios Fundamentais de Filosofia”,  Georges Politzer;

“Caminheiro que passas pela estrada,

seguindo pelo rumo do sertão

quando vires a cruz abandonada

deixa-a dormir em paz na solidão

( … )

Caminheiro, do escravo desgraçado

o sono agora mesmo começou

não lhe toques o leito de noivado

a liberdade a pouco o desposou”.

Castro Alves;

“Quebre-se o cetro do papa

faça-se dele uma cruz

a púrpura sirva ao povo

pra cobrir os ombros nus

( … )

banhem-se em luz os prostíbulos

e das lascas dos prostíbulos

erga-se estátuas aos heróis”

Castro Alves;

“ É por não desejar o colapso da civilização que sou socialista”

“Ensaios Céticos”, Bertrand Russel.

Na varanda daquela casa , ainda na adolescência, Ed leu, aos poucos, a obra importantíssima de Edward Mc Neil Burns, “História da Civilização Ocidental – do Homem da Caverna até a Bomba Atômica”, publicado em dezenas de edições nas últimas seis décadas. Encantava-se com as análises e as ilustrações por mapas, fotos e desenhos, vários deles coloridos, dos fatos históricos naquele livro. Já na paz e no silêncio da Biblioteca da “Escola Agronômica da Bahia”, localizada no lado sul do primeiro andar do Prédio Central, desfrutou da riqueza literária da “ Biblioteca Internacional de Obras Célebres”.

– Essa Biblioteca é realmente sensacional, comenta Arnaldo. – Você se lembra de alguma das suas leituras nela?

Como exemplo, lembro-me de um conto sobre Cleópatra. Ela costumava atrair jovens, acertando que cada eleito desfrutaria consigo de momentos amorosos, condicionando-se que, após a luxúria, seria sacrificado, ou seja, decapitado. Esta situação relatada no conto, deixou-me profundamente assustado com a frieza de Cleópatra, e com o drama do jovem de vinte anos, belo, e exímio caçador de leões.

– O conteúdo destas leituras e conversações seriam suficientes para a consolidação de uma consciência humanista e socialista?, indagou Arnaldo.

– Sim, disse Ed, desde que este conteúdo  encontrasse, como de fato encontrou, reflexos em nossa realidade. – A realidade sócio econômica política do Brasil, nas décadas de cinquenta e sessenta, tinha o clima propício à absorção das ideias e ao desenvolvimento das lutas nacionalistas e socialistas. As lutas eram estudantis, operárias, de funcionários públicos, “ O Petróleo é Nosso”, o suicídio de Getúlio Vargas, a renúncia de Janio Quadros, a queda de Jango, a ditadura militar, a ascensão de Brizola e do PT. Estes foram alguns dos marcos da arena política brasileira naquelas décadas.

– E qual foi sua participação?, perguntou Arnaldo.

–  A guisa de simplificação, mencionemos as seguintes atividades:

Aos quinze anos ( 1958 ) Ed enfrentou e venceu com ampla margem, uma dura eleição para presidente do Grêmio Lítero Esportivo Castro Alves – GLECA, do Colégio Alberto Tôrres – CAT, em Cruz das Almas. O candidato oponente era filho do Diretor, e pela primeira vez a campanha foi levada à cada sala de aula, numa disputa acirrada. Tanto que “Marreta” acabou jogando a tinta azul de um tinteiro no rosto de Pituca, militante adversário, quando este tirava do mural um cartaz da campanha do Ed. Naquela época ainda se usava a “pena” e o tinteiro.

As principais realizações da nova Diretoria do GLECA, na gestão de Ed, foram a construção da Quadra de Basquete e Futebol de Salão, instalação de sala de recreação com dominó e dama, organização da seleção de futebol do GLECA; tudo feito com recursos obtidos da população de Cruz das Almas, e, também, a Campanha pela Estadualização do Colégio Alberto Torres – CAT. Foi então que Ed redigiu e levou a “Tese em Defesa da Estadualização do CAT” para ler no “Primeiro Colóquio dos Estudantes Secundários da Bahia”, realizado na cidade de Jacobina, em 1959. Este Colóquio foi realizado pela Associação dos Estudantes Secundários da Bahia – ABES, que naquele momento levou centenas de estudantes até Jacobina. A viagem, partindo de Salvador, foi de trem, muito demorada, cansativa, mas alegre. Jarbas Santana, sobrinho do então Deputado Federal Fernando Santana, era o Presidente da ABES, dedicado e competente. Lembro-me que ele gostou de meu paletó de tecido “bagaço de coco” e, como estava fazendo frio,  o tomou por um tempo enquanto fazíamos uma serenata – estávamos encantados com tantas garotas lindas na arborizada praça central de Jacobina. Após as 21 horas, a formosa Praça, muito romântica, ficava somente à luz da lua. Então as serestas e os namoros tomavam os corações da moçada.

Lembro-me também da palestra do Deputado Federal Vieira de Melo, como parte da programação do Colóquio, defendendo a proposta de construção da nova capital, Brasília. Lembremos que JK teve que ultrapassar dura oposição para aprovar o projeto de mudança da Capital Federal, do Rio de Janeiro para Brasília. A palestra de Vieira de Melo pode ser vista como um componente daquela luta.

No final dos anos cinquenta e início dos sessenta, a “Frente Nacionalista” dinamizou a política de Cruz das Almas, apoiando a candidatura de oposição à oligarquia, que historicamente mandou no município, vencendo a eleição com Jorge Guerra para Prefeito; publicando o jornal “O Nacionalista”; distribuindo os jornais de circulação nacional “Semanário” e “Novos Rumos”. Estas ações dependiam da liderança e do envolvimento direto de José Alberto Bandeira Ramos.

Ainda como estudante de agronomia, José Alberto foi o vereador mais votado para a Câmara de Cruz das Almas. Lembro-me tão bem dele em cima daquela lambreta “canela seca”, usando uma botinha coturno do Tiro de Guerra,  pra cima e pra baixo nos três km entre a “Escola Agronômica” e a Cidade de Cruz das Almas.

Requeria atividade frenética para atender às seções da Câmara, cursar agronomia, liderar a “Associação dos Trabalhadores Rurais Tarefeiros” da “Escola Agronômica”, distribuir pessoalmente os jornais “Semanário” e “Novos Rumos” etc., além de participar da vida partidária do Partido Comunista Brasileiro – PCB, em Salvador.

Como vereador Zé deu show. Lembro-me dele durante uma sessão da Câmara, ajudando o então Presidente, Dr. Ramiro Passos da UDN, a conduzir a sessão da mesma, interpretando o Regimento Interno. Assim estava dando um exemplo de superioridade ética, ao colaborar com um adversário político. A UDN – União Democrática Nacional, era o partido líder da Direita no Brasil.

– Qual foi sua participação nestas aventuras?, perguntou Arnaldo.

– Sim, de início foram pequenas aventuras, depois algumas se tornaram bem perigosas. Ora, essas coisas se passavam nos anos anteriores ao de 1964, ano do golpe militar ou da Revolução – conforme a preferência.

–  Muitas vezes Ed pegava carona na lambreta de Zé, que passava em vários pontos na cidade antes de voltar para casa, lá para as doze e meia. Quase como num ritual diário, ele ia ver Baêta, Mário Comunista, Rito, Hélio Pitanga, Lira, e outros,fazendo a conversa política. No mínimo entregava o jornal, mas o mais certo era conversar um bocado com cada um, dando instruções, falando sobre a política e aproveitando para doutrinar,etc.. Ed ficava um tanto estressado com todo aquele “converseiro”. – Vamos pra casa Zé, tá na hora do almoço! Não adiantava, tínhamos sempre uma última parada, na tipografia de Hélio Pitanga, na Rua do Jenipapo, que funcionava como uma espécie de sede da Frente Nacionalista e imprimia o jornal “O Nacionalista”. Era daquelas tipografias que usavam letras colocadas uma por uma, para compor as palavras. Como não tinha outro mais conveniente naquele momento, Zé colocou Ed, mesmo na idade de15 anos, como Redator Chefe do Jornal. Ed nunca esqueceu a expressão paternal de gozação de Aristeu Nogueira (Secretário Geral do Partido Comunista da Bahia-PCB) quando foi apresentado ao mesmo como o Redator Chefe do Jornal “O Nacionalista”. Daí por diante Aristeu perguntava “como está o nosso Redator Chefe?, quando encontrava com José Alberto.

José Alberto cresceu muito no cenário político estadual, chegando a ser responsável pela coordenação das ações do PCB no meio rural do Estado. Seria certamente eleito à Deputado Federal, nas eleições que se seguiriam. Esta exposição pessoal lhe custou caro com o advento do golpe militar de 31 de Março de1964, que priorizou a perseguição ao pessoal do Partido Comunista Brasileiro – PCB. O Superintendente do Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário – INDA, órgão criado pelo governo militar, Dr. Clodoaldo Gomes da Costa, era Professor da Escola Agronômica da Bahia, e foi fundador e Diretor do Colégio Alberto Torres, ambos em Cruz das Almas. Contribuiu, também, escrevendo sobre assuntos diversos, na sua coluna “Do Meu Dossier”, no jornal “Nossa Terra” em Cruz das Almas. Ele, Dr. Clodoaldo, comentou em Cruz das Almas que no âmbito político sabia-se que José Alberto estaria eleito.

“O que aconteceu com Zé Alberto, a partir daí?”, indagou Arnaldo.

– Ele sofreu muito das perseguições do regime militar. Sobreviveu. Continuou tendo uma atividade política dentro do possível, e desenvolveu uma carreira profissional como professor universitário, inclusive conquistando o título de Doutorado, até se aposentar.

– Qual o sonho de José Alberto, na sua maneira de ver?, insistiu Arnaldo.

– O sonho  socialista, segundo a concepção marxista da sociedade. –  Olhe Arnaldo, o sonho de Zé Alberto foi e é semelhante ao de milhões de pessoas em todo o mundo. Busca-se uma sociedade onde as pessoas tenham oportunidades semelhantes para poder alcançar condições materiais e espirituais razoáveis, referentes à determinado momento histórico. Esta é a perspectiva da esquerda política. Ele, o Zé, era afinado com o estado de artes do materialismo histórico e o materialismo dialético, que premiam a estreita relação da teoria com a prática. Por isso era um atento ativista político.

Um ingrediente essencial do sonho esquerdista é apontado por Bobbio (1995), quando escreve: “O impulso em direção a uma igualdade cada vez maior entre os homens é, como Tocqueville havia observado no século passado, irresistível. Cada superação desta ou daquela discriminação, com base na qual os homens dividiram-se em superiores e inferiores, em dominadores e dominados, em ricos e pobres, em patrões e escravos, representa uma etapa, por certo não necessária, mas possível, do processo de civilização”.

– Lembremos que todo o drama político que tumultuou e tumultua  a vida da sociedade no século passado e no atual,  resulta do embate esquerda versus direita, comenta Arnaldo.

– A onda direitista do regime militar levou à perseguição de milhares de brasileiros, como José Alberto, mas nunca abalou sua posição ideológica, nem o desviou do seu sonho.

Naquele momento histórico, final dos anos cinquenta e início dos sessenta, Cruz das Almas entrou na efervescência da vida política da esquerda nacional, em grande parte devido ao trabalho político de José Alberto. Ed nunca esqueceu de como ficou impressionado com a garra de Zé Alberto, quando disse a Seu Jorge Guerra, que a Frente Nacionalista de Cruz das Almas iria apoia-lo à Prefeito do município, mesmo ele não sendo ideologicamente a opção ideal como candidato da Frente. Pela primeira vez na história de Cruz das Almas os votos da esquerda decidiram a eleição para Prefeito. Jorge Guerra foi eleito e logo em seguida deposto. A paranoia do regime militar foi suficientemente para castigar um homem conservador e honrado.

Arnaldo indagou: – como se explica um jovem como o Zé, esmerado intelectualmente, cheio de entusiasmo na militância em prol do socialismo, vir a ser massacrado por perseguição política desumana, brutal ?

Ed responde dizendo que testemunhou, de perto, quando Secretário do  Governo do Estado da Bahia, muita dificuldade, da parte do Governo, em se entender com segmentos divergentes ou reivindicantes, como Professores, Policiais e outros.

– Para se ter uma ideia, basta mencionar que dois Secretários de Estado do então Governo da Bahia, não se incluindo Ed, participaram, em determinado momento, de reunião com representação de Sindicato de Professores Universitários da Universidade de Feira de Santana – UEFS. Estranhamente, esses Secretários se fizeram representar por uma comissão, mas ridicularmente se esconderam  em sala contígua à da reunião, para monitorá-la!

Pôxa, exclamou Arnaldo!, isto parece incrível!

– Vamos ver mais sobre este tipo de fenômeno, adiante.

– A história está repleta de situações semelhantes, em que equívocos, erros e despreparos, tiveram evoluções desastrosas sobre milhares ou mesmo milhões de pessoas, ou mesmo grandes oportunidades foram perdidas. Por exemplos, lembremos  as tentativas infrutíferas do Primeiro Ministro Chamberlaim da Inglaterra, para conter a intrepidez de Hitler; também os esforços de Krushchev com a Perestroica, para desenferrujar a União Soviética; os horrores da Inquisição e do Holocausto; a luta desesperada de Brizola e Darcy Ribeiro para enfrentar o descalabro das favelas, com a implantação das escolas em tempo integral no modelo CIEPS; a estupidez de Bush no caso da guerra do Iraque, as “pedradas” do Donald Trump, como candidato à Presidência dos Estados Unidos,  e uma infinidade de outros casos ao longo da história; inclusive, como exemplo em menor escala, e próximo a nós, a estupidez de Wagner em negligenciar a iniciativa de Ed, como Secretário do governo, para colocar a Bahia na ponta da corrida pela energia solar no Brasil.

Os perseguidos e presos de Cruz das Almas, uns oito principalmente, foram denunciados ao exército por membros da oligarquia local.

– E não é assim no mundo todo?, exclama Arnaldo. – O aparato repressor do estado não está afiado e afinado com a proposta política de quem está por cima?

– É neste ponto que a porca torce o rabo, disse Arnaldo. É o momento em que as regras de convivência da sociedade são desprezadas , desrespeitadas, e o uso da força afasta a possibilidade de diálogo para resolver os problemas e as divergências. Ai se afirmam as forças políticas que impõem suas posições para consolidar vantagens já estabelecidas, e ampliá-las.

– É o caso de Cruz das Almas, quando cassaram os mandatos de José Alberto ( vereador)  e de Jorge Guerra ( Prefeito ), comentou Ed. – Assim mataram dois coelhos de uma cajadada só;  derrubaram a democracia, e com isto ampliaram seu poder político, e, obviamente, o econômico.

Durante a Ditadura instalada no Brasil em 1964, Lauro Passos, ficou como candidato único à Prefeito; os parentes, correligionários e agregados, ocuparam os cargos existentes de Cruz das Almas, e logicamente, todos ampliaram seus ganhos. De sobra, ele prodigalizou terras suas para obras públicas e empreendimentos de interesse da comunidade como a extensa área urbana para a instalação do Departamento Nacional de Estrada de Rodagem-DNER,  abrandando uma possivel imagem de carrasco político. Assim ele quedou ao mesmo tempo como cacique político e mecenas.

Ademais, Lauro Passos, como um dos principais cabeças da família oligárquica de Cruz das Almas, empregou sua influência política junto ao Interventor da Bahia, Landulfo Alves, e ao Ditador Getúlio Vargas, ainda na década de 30, para instalar a então denominada Escola Agronômica, em Cruz das Almas, que teve grande papel no desenvolvimento  sócio econômico da região, inclusive dando origem à Universidade Federal Rural do Recôncavo Baiano – UFRB.

– Como foi que Ed enxergou a passagem daqueles acontecimentos do período de 1964?, Arnaldo indagou.

– A presença militar pareceu ser ambos equivocada e brutal. Equivocada no sentido de que as Forças Armadas poderiam ter sido solidárias com as grandes massas, portanto coerente com sua  pressuposta função de defensora do povo, ao invés de fazer a vez das elites nacionais coligadas com o império norte americano.

– Presença militar equivocada me parece uma expressão muito “light”, diz           Arnaldo.

De fato, continua Ed, a correlação de forças que levou à ditadura em 64, mais uma vez mostrou a hegemonia das forças do capital sobre o trabalho. Brutal porque usou de força desproporcional contra estudantes, operários, políticos, professores, e religiosos, empregando armas do povo contra o próprio povo.

Arnaldo pergunta: “o sofrimento dos milhões e milhões das pessoas perseguidas políticas no Brasil, bem como em todo o mundo, é uma fatalidade?

Esta questão fez Ed lembrar as aulas de “História da Europa entre as Duas Guerras Mundiais,” ministradas pelo Professor Dr. Goldberger na Universidade de Wisconsin – Madison, e da Sorbone. Foi no final da década de setenta, quando Ed estava fazendo o Phd.  Numa abordagem marxista, o Prof. Goldberger  mostrava a luta desesperada das esquerdas para evitar a guerra na Europa. – A lembrança das mortes da Primeira Guerra ( nove milhões de pessoas ), não intimidou os propugnadores da segunda guerra que se anunciava, esta que matou mais de cinquenta milhões de pessoas.

Também não falta quem considere os estados de conflito extremos, inclusive as guerras,  como fenômenos normais na dialética das vidas biológica e humana. Em magistral obra “A Guerra e a Paz na História Moderna” Philip Bobbitt afirma que “a guerra não é uma patologia que, com a devida higiene e tratamento, pode ser plenamente prevenida. A guerra é uma condição natural do Estado, que se estruturou de modo a constituir um instrumento eficaz de violência em nome da sociedade” (Bobbitt, 2003, p.785). Veja só, “instrumento eficaz de violência em nome da sociedade”. – Temos que conviver com um barulho desses, ironiza Arnaldo.

Como você vê isto, Ed?

A continuidade desta irracionalidade global é analisada por Alcoforado ( 2014 ), em  artigo intitulado “Em Defesa de um Novo Projeto Iluminista”, pautando-se no argumento de Theodor Adorno e Max Horkheimer ( 1985 ) sobre os efeitos desastrosos causados pelo totalitarismo do capitalismo de mercado. Portanto, pelo projeto iluminista, os homens superariam sua condição de opressão. Entretanto, a razão do capitalismo de  estado acabou superando  o projeto iluminista.

As aulas do Prof. Goldberger eram ministrada em um anfiteatro no campus, porque atraiam uma  audiência  de umas quinhentas pessoas, inclusive os quarenta alunos regularmente matriculados na Disciplina. Elas sempre terminavam com uma grande ovação em palmas.

– Deve ter sido gratificante para você, comentou Arnaldo, naquele período da ditadura no Brasil, desfrutar de uma atmosfera menos opressora politicamente.

Certamente, respondeu Ed, tanto nos anos de 1976 à 1980, na Universidade de Wisconsin, quanto de 1966 à 68, na Universidade da Flórida, sentia que o clima psicológico que nos oprime nos regimes autoritários, era mais leve nos EUA. Uma questão de grau de opressão.  Hoje parece-nos que a opressão exercida pelo estado sobre a população está maior nos “states”, decorrente das mudanças causadas pelo ataque às Torres Gêmeas em 11 de setembro e a nova crise racial.

Naquelas décadas de sessenta e setenta, continuou Ed, os Estados Unidos estavam passando por uma tormenta ao mesmo tempo social, militar e política: explosão dos movimentos negro, feminista, e hipppie, guerra no Vietnam, a revolução cubana, e ascensão das ditaduras militares na America Latina. Na Universidade da Flórida em Gainesville a tormenta passou ao largo, quando estávamos lá (1966-68). Somente o incidente com a aluna Pamela Brewer perturbou a paz da Universidade. Ela foi expulsa da Universidade por ter pousado nua numa revista de fora do Campus. Também presenciei uma pequena “rusga” ou altercação entre um aluno e o professor de Economia da Terra ou “Land Economics”. Durante uma aula, o bom Professor W.K. McPherson zangou-se com meu querido colega Juan Clark, porque Juan, de vez em quando, criticava aspectos da sociedade americana. Pelo que entendi, o Professor McPherson achava que o Juan Clark, como imigrante cubano e já cidadão americano, deveria “pegar mais leve” com suas críticas.  Senti que aquela era uma “briga de branco”, e “fiquei na minha”. Este pequeno incidente mostra como o “clima” em relação à Cuba era tenso.

Já na Universidade de Wisconsin em Madison, a tormenta foi forte. No começo o movimento contra a guerra do Vietnam incendiou o Campus; em seguida conquistou a adesão da população da cidade de Madison. Alguns incidentes podem dar uma ideia sobre o “clima” daquele momento: os irmãos Armstrong dinamitaram destruindo um prédio novinho de cinco andares, de Matemática. Foi de madrugada, um “cdf” coreano era o único que se encontrava no prédio, que desabou naquele momento.. Os Armstrong acharam esta a melhor forma de protestar contra a guerra do Vietnam, porque o prédio foi construído com recursos da marinha e nele seriam realizadas pesquisas vinculadas à guerra. Fugiram para o Canadá onde se refugiaram até o final do conflito.

Em determinado momento tropas militares ocuparam o campus da universidade. Muitos incidentes agitaram a cidade de Madison. Alunas se colocaram em frente aos soldados enfileirados para isolar prédios da Universidade; elas se postaram ameaçadoras tirando as blusas e apontando os seios diretamente aos olhos dos recrutas, que permaneciam imóveis e embasbacados.

Professores do Departamento de Economia foram induzidos  a deixar a Universidade porque estavam apoiando o movimento contra a guerra. Eles não estavam conseguindo atualização de salário, financiamento para pesquisa, etc. Como eram Professores de destaque, conseguiram facilmente ser contratados por outras universidades, menos fustigadas pela turbulência da política nacional de guerra.

 

Parte II  Sonhos, Poder e Força

Arnaldo indagou como as considerações feitas até aqui podem contribuir para uma interpretação dos “Sonhos na Política”.

Esta pergunta estimulou Ed a pensar na utilização dos conceitos de “níveis de consciência humana” e de “distribuição social de níveis de consciência” pesquisados  por Hawkins (2002), para aquilatar a influência  dos sonhos na política. Hawkins trabalhou por décadas, sacando das fronteiras da ciência nas áreas da física avançada de partículas, e de dinâmica não linear. Conseguiu estabelecer uma mensuração do nível de desenvolvimento da consciência em escala de 1 à 1000.  Estes conceitos podem levar, sugere Ed, a se entender que os sonhos concebidos por líderes podem permanecer e se propagar, a depender da sua natureza e do seu nível energético.

Arnaldo interfere para acrescentar que o argumento de Hawkins sobre poder e força parte do entendimento de que “o poder vem da mente, enquanto a força é baseada no mundo material”.

– Permita-me inquirir, Arnaldo, que alguns sonhos na política sejam eternos, mesmo que temporariamente sufocados pela força; e que utilizemos o argumento desenvolvido por Hawkins sobre o confronto entre poder e força na eterna luta entre o bem e o mal. Hawkins empregou a escala de 1 à 1000, acima mencionada, para mensurar o nível de desenvolvimento da consciência de pessoas e entidades. Ele deu 700 à Revolução Americana por “estabelecer formalmente a liberdade como um direito inalienável”. Também pessoas calibraram alto “por expressar princípios universais”. Gandhi e Mandela calibraram 700 pelo poder do desprendimento no enfrentamento da força do interesse próprio do colonialismo, este calibrando 175. O estadista calibra alto invocando a nobreza dos homens e buscando a verdade; o político usa da esperteza para alcançar posições e mandar pela força, calibrando abaixo de 200.

Qual a pontuação de nossos políticos?, provocou Arnaldo.

Em bom tempo poderemos voltar à isso, retorquiu Ed; porém, acredito que aqueles lenientes presos pela “Operação Mãos Limpas” na Itália, mereceriam entre 100 e 200.

– Os políticos pegados pela nossa Operação Lava Jato mereceriam notas semelhantes.

Arnaldo comenta que o filósofo e espiritualista Osho também trata desta questão do poder versus força (O Livro da sua Vida p.140 ). Ele observa que frequentemente as pessoas não distinguem a “força” e o “poder”, chegando a considerá-las como sinônimos. Entende que a força vem da espada e é violenta, enquanto o poder é amor; a força é o oposto do poder; a força interfere na liberdade dos outros, já o poder mantém e enaltece a dignidade das pessoas; e em certo sentido a força é animal e o poder é espiritual.

Estas considerações advindas dos pensamentos do cientista Hawkins e do filósofo Osho, levaram Ed  a arriscar concluir que os sonhos na política, quando embalados por bondade e solidariedade, tendem a pontuar alto na escala de Hawkins.

Donde veem a bondade e a solidariedade?, indaga Arnaldo.

– O reconhecimento, pelos indivíduos, de suas semelhanças e seus interesses comuns  induziriam e/ou despertariam o sentimento e a prática da bondade e da solidariedade, diz Ed. – Consequentemente, esta prática seria substanciada pela consciência em cada indivíduo, que os resultados advindos das bondade e solidariedade, seriam superiores aos conquistados através de disputas e conflitos destrutivos.  – Remoendo esta ideia, digamos que as bondade e solidariedade representariam um “modus vivendi” mais gratificante, superior, embora não menos trabalhoso.

– Penso que o exercício da liberdade de cada individuo, que convirja com o bem da sociedade, pode representar uma receita promissora para a sociedade humana, opina Ed. – Em outras palavras, a liberdade individual quando contribuir para o bem estar social, fortalece a sustentabilidade da democracia; ademais, a liberdade individual não leva necessariamente à comportamento ante social.

-Talvez estejamos aqui num bom momento de voltarmos à questão feita por Arnaldo, anteriormente: “qual a pontuação dos nossos políticos?”, cogita Ed.

Ed revela estar entusiasmado com a ideia e a possibilidade de mostrar, mesmo que um pouco, a barriga do poder, pautando-se em vivências políticas destas últimas seis décadas. Algumas dessas vivências foram relatadas anteriormente, acima, que contribuíram para a construção de seus sonhos no âmbito político. A pontuação dos políticos serão estabelecidas ao longo do relato das vivências. Será dada diretamente por Ed e/ou Arnaldo, ou, em alguns casos, será deixada para que o leitor o faça.

Tanto Ed como Arnaldo se sentem provocados pela ideia de penetrar tanto na arena quase sempre nebulosa ou misteriosa dos sonhos, quanto no espaço claro, insofismável, da prática  dos atores do drama ou da comédia que está por ser relatada.

Neste sentido, vamos aproveitar os acontecimentos do governo da Bahia quando Ed estava lá, fazendo parte do comando, como cenário da nossa andança no mundo dos sonhos na política.

 

Parte III  O Que se Passa Dentro e fora do Governo

Arnaldo perguntou à Ed quais os seus objetivos políticos e as motivações pessoais referentes ao presente relato.

Ed responde que se inclui entre os que se propõem a fazer uma política com espírito público. Portanto distingui-se o interesse individual da pessoa do interesse coletivo da sociedade.

Arnaldo retruca que em inúmeros casos estes interesses não se apresentam claramente delimitados. – Daí fazer-se indispensável o recurso à ética para que se estabeleçam os limites convenientes à sociedade. – A vida política é repleta de situações de conflitos entre os interesses individuais e os coletivos.

Ed concorda acrescentando que devido ao agravamento do cenário de corrupção no Brasil, a trajetória dos que lutam pelo interesse público queda muito penosa.

– A pena, a dor, dos que querem a coisa certa, dá-se de duas formas: uma delas é a angústia de se ver inúmeras oportunidades de progresso do País ou do Estado ir por água abaixo; por exemplo, ficamos muito tristes, como Secretário de Estado, em ver um dos nossos sonhos ser inviabilizado, sonho de colocar a Bahia na frente da corrida pela energia solar no Brasil (veja-se nosso discurso de posse no governo, em www.eduardolramos.com.br); outro exemplo pode ser o desastre da Petrobrás causado pela corrupção. Por falar em Petrobrás, lembrei-me das palavras de meu pai, Affonso Ramos, no jornal O Nacionalista, de Cruz das Almas, ainda na década de 50, referindo-se à influência dos Estados Unidos no Brasil, durante a luta “o petrólio é nosso”. Ele exclamou: “… tacão de bota no peito, espoliação, moral capitalista”.

A outra forma de sofrimento de quem quer a coisa certa é a acachapante sensação de solidão dentro de um ambiente, o governo, quando não se tem a oportunidade de contribuir com ideias em prol duma luta pelo socialismo. Este sofrimento se deu de forma chocante quando passei a ouvir repetidamente a expressão “projeto” ou “nosso projeto”. Ao mesmo tempo, o governador gostava de mencionar o propósito de valorizar o contraditório dentro do governo.

Arnaldo pergunta por que o “projeto” e o “contraditório” se transformaram em problemas  para Ed.

– Ora, Arnaldo, após vinte anos sofrendo as vicissitudes da esquerda, acreditávamos que, com a tomada do poder federal em 2002, com Lula, iríamos “botar prá quebrar” na direção do socialismo. Este sonho não foi construído tendo como alicerce a Carta Testamento de Getúlio Vargas e a luta das esquerdas em todo o mundo?

“O que você está chamando de “botar prá quebrar”?, indaga Arnaldo.

– Estabelecer uma estratégia política de médio e longo prazos para a construção do socialismo, e lutar desesperadamente por ela.

“O que significa esta construção”?, insiste Arnaldo.

– Consiste na paulatina transferência do poder político e econômico dos donos do capital para os trabalhadores. Na linguagem marxista, da burguesia para o proletariado. Esta é toda a saga da revolução socialista.

– Pois é, continua Ed, no momento em que senti que o “projeto” do governo  não tratava de socialismo, e que o contraditório era apenas uma figura de retórica para dar uma tintura de democrático ao mesmo, comecei a me sentir como peixe fora d’água. Entretanto, é bom que se diga que Ed se sentiu à vontade com os outros Secretários de Estado do Governo, com exceção de um deles.

Isto significa que você estaria renunciando ao posto de Secretário?, indaga Arnaldo.

– Não necessariamente, a constatação de que o governo tem possibilidades (dotação de recursos já consolidada, poder e força), de sobra, para virar o jogo em favor da sociedade, em termos de socialismo, sempre sinalizou para Ed uma responsabilidade de lutar, dentro ou fora do governo.

Você quer descrever com mais detalhe aquele momento? , solicita Arnaldo.

– Sim, estávamos próximos à eleição de 2010, o governador tratando da reeleição, e o partido me convocou para entrar no primeiro escalão do governo. Aí começou tudo que vimos acontecer sobre o projeto de poder do PT, o papo do contraditório, e os sonhos que tentamos perseguir. Enfim, enveredamos pelo embate entre os sonhos e a realidade. Vejamos, em seguida, os detalhes.

Na Parte III, seguinte, pretendemos revelar o exercício dialético entre nossos sonhos e a realidade que nos envolvia. O comportamento e/ou as artimanhas dos políticos, funcionários, empresários e outras figuras com os quais tivemos que labutar, no fundo no fundo encarnam parte dominante do corpo e da alma dos nossos governo e sociedade.

A forma pela qual vamos realizar este exercício é batendo de cara com cada um dos  personagens, atos e fatos, listados a seguir, com os quais lidamos no curto período que passamos no governo, setembro de 2009 à março de 2010.

– Qual o critério usado para selecionar os tópicos listados?, pergunta Arnaldo.

– Listamos as pessoas, entidades e acontecimentos que mais nos chamaram a atenção . Com elas e a partir delas estaremos buscando entender as morfologia, anatomia e fisiologia da política e do governo como ambiente do sonho.

Lista de pessoas, entidades e acontecimentos:

1  O telefonema de Flávio

2  O telefonema do Partido

3  Encontro no Partido – Só se respeita quem se faz respeitar

4 Encontros com Flávio, Jackson, Pedro Torres e Jerônimo no Shopping

5 Envelope branco

6 FAPESB

7 Célia na Brooksfields

8  Posse

9  Secretaria – primeira vista

10  Flávio

11 Jerônimo e Jackson (Assessores Especiais?)

12  Pedro Torres

13  Wagner

14  Dra. Eva

15  Walter Pinheiro

16  Rui Costa

17 James

18  Afonso Florence

19  Edson Valadares

20  Pititinga

21  Silvio da UEFS

22  Silvio “Gentleman”

23  Cláudio Melo

24  Moça da China

25  FAPESB

26  Conferências de Ciência, Tecnologia e Inovação – SECTI

27  Conselho de Secretários de Ciência Tecnologia e Inovação –  CONSECTE

28  Os Ministérios

29  Centros Digitais de  Cidadania – CDC’S

30  Cidades Digitais

31 Microsoft

32  Parque Tecnológico

33  Centros Vocacionais Tecnológicos Territoriais – CVTT’S

34  Academia Baiana de Ciência – Roberto Santos e Edivaldo Boaventura

35  Núcleo de Relações Internacionais

36  Dinamarca

37  Alemanha

38  Uruguai

39  Trabalhismo

40  PDT

41 Urânio

42 Chumbo

43  Corrupção ( LOVELACE; Empresa de fármacos no Rio; BRASKEN; Escola de cinco             milhões de reais)

44  Eleição de 2010

45 Saída da Secretaria

 

III Epílogo

 

 

 

Bibliografia da Parte 1

Bloom,Allan David. O declínio da cultura ocidental. Tradução João Alves dos Santos. São Paulo : Best Seller, 1989.

Bobbio, Norberto. Direita e Esquerda. Tradução Marco Aurélio Nogueira – São Paulo : Editora  da Universidade Estadual Paulista, 1995.

Bobbitt Philip. A guerra e a paz na história moderna : o impacto dos grandes conflitos e da política na formação das nações . Tradução de Cristiana Serra – Rio de Janeiro : Campus, 2003.

 

Felipe ll da Macedônia. Disponivel em pt.wikipédia.org/wiki/Felipe ll da Macedônia. Acesso em 05/01 2015.

Filosofia natural em La Edad Moderna. Wikipédia. Org/wiki/Filosofia_natural. Acesso em 21/02/2015.

Hawkins, David R.. Power versus forces: the hidden determinant of human behavior. Sedona, Arizona: Veritas, 1995.

Jung, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões; organização e edição Aniela Jaffe; tradução Dora Ferreira da Silva: Nova Fronteira, 2012.

Lessa, Sergio e Tonet, Ivo. Proletariado e sujeito revolucionário. São Paulo: Instituto Lukács, 2012.

Magia. Wikipédia.org/wiki. Acesso em 22/02/2015.

Mao Tsé-tung. Sobre a prática e sobre a teoria. São Paulo : Editora Expressão Popular, 1999.

Nóvoa, Jorge (Org.). Incontornável Marx. São Paulo: Editora UNESP, 2007.

Orwell, George. 1984. Tradução de Alexandre Hubner,Heloisa Jahn; posfácios Erich Fromm, Ben Pimlott, Thomas Pynchon. São Paulo : Companhia das Letras, 2009.

Osho. Compaixão: o florescimento supremo do amor.São Paulo : Cultrix, 2007.

PDT – Caminho brasileiro para o socialismo.  Estatutos; Carta de Lisboa; Carta de Mendes; Carta de São Paulo; Manifesto; Artigos; Textos de Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola, e  Darcy Ribeiro. Rio de Janeiro, PDT, 2006.

Sebag Montefiore,Simon. Stalin: a corte do czar vermelho. Tradução Pedro Maia – São Paulo : Companhia das Letras, 2006.

Weatherford, Jack. Indian Givers. New York : Ballantine Books, 1988.

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Quem não Deve não Teme

Este escrito pretende ser uma dentre milhões de manifestações de brasileiros contra a corrupção.

Quem Não Deve Não Teme
Qualquer dos políticos envolvidos ou passíveis de ser indiciados na Operação Lava Jato, como, por exemplo, o titular do governo baiano de 2007 à 2010, poderia se sentir feliz com tão tremenda possibilidade de ser definitivamente vindicado com a prova de isenção de qualquer suspeita de corrupção ou de comportamento inidôneo referente ao petrolão ou outro pesadelo da espécie.
Isto é quanto à sina de cada um dos políticos sendo indiciados. Está em jogo, também, os prejuízos e sofrimentos causados ao povo pela corrupção perpetrada pelos possíveis sacripantas. Possivelmente uma parcela significativa do povo brasileiro ainda não tem um claro discernimento sobre o profundo estrago que a corrupção impõe ao funcionamento do governo, pelas distorções provocadas na gestão, no planejamento, e notadamente nas finanças. A corrupção atua como um câncer no organismo político-econômico da comunidade.
Pode-se argumentar ser plausível submeter-se os oito anos do governo à avaliação judicial especial. Pelo que pude aquilatar durante o período em que estive dentro do governo como Secretário de Estado, de setembro de 2009 à março de 2010, ocorrências de claro perfil corrupto forçosamente chegaram à minha percepção. Ao enfrentar aquelas situações, verifiquei que, ali, a moralidade ainda tinha o poder, mas não tinha a força ou os meios para dominar as persistentes teias da corrupção.
A corrupção foi facilitada por uma, digamos, “Pax Baiana”, montada durante os oito anos do governo, que castrou a oposição através dos seguintes dispositivos : (1º) cooptação do quadro político remanescente do império de ACM, e (2º) neutralização das oposições internas do PT baiano e aliados. Veja-se como exemplo da “Pax Baiana”, a de facto submissão da Assembleia Legislativa ao governo (executivo) naquele período.
Um poderoso esquema de comunicação, incluindo-se milionária propaganda governamental, dava a sensação, dentro do governo, de se estar vivendo sob a égide das famosas CIA dos EUA, ou da SS de Hitler, ou da KGB da União Soviética, ou do SNI da ditadura de 1964, excluindo-se, felizmente, a famosa prática de eliminação física dos desacreditados.
Este poder de comunicação poderia ter sido usado para identificar e controlar (eliminar) o fluxo de corrupção que seguia com desenvoltura. Isto não foi feito.
Portanto consideremos que seja melhor para a democracia que o último governo (2007 – 2014), e outros semelhantes, sejam submetidos ou acedam a um procedimento de limpeza póstuma, feito por processo tipo Operação Lava Jato, ou equivalente. Quem não deve não teme!
Agora o novo governo da Bahia tem a oportunidade, a chance, de priorizar a implantação de política de tolerância zero com a corrupção.
“En passant”, brindemos à “Operação” por já estar contribuindo com o aprimoramento da estética, esta prima da moral, na vida nacional.
Eduardo Lacerda Ramos
Professor Universitário;
Ex Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação – SECTI/Bahia.
elramos@atarde.com.br
Site: www.eduardolramos.com.br

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A REGIONALIZAÇÃO COMO ARMA POLÍTICA

A REGIONALIZAÇÃO COMO ARMA POLÍTICA

DESDE QUE ESCREVEMOS A “ABORDAGEM REGIONALISTA”, JÁ SE PASSARAM DUAS DÉCADAS. POR CONSEGUINTE CONSTATAMOS QUE TAL ABORDAGEM OU ENFOQUE TEM SE TORNADO CADA VEZ MAIS NECESSÁRIA.
A ABORDAGEM CONSISTE DE UMA ESTRATÉGIA QUE BUSCA COERÊNCIA NO TRABALHO POLÍTICO COMO PROCESSO DEMOCRÁTICO. PARA TANTO, O FOCO DO TRABALHO SOBRE A REGIÃO, FACULTA, NO TEMPO E NO ESPAÇO, UMA APROXIMAÇÃO DA CLASSE POLÍTICA COM OS PROBLEMAS A SEREM ENFRENTADOS. PODE AUMENTAR O PODER DOS ELEITORES, OU REDUZIR A ALIENAÇÃO DO ELEITORADO,CAUSADOS PELA MERCANTILIZAÇÃO DO PROCESSO ELEITORAL.
A EXPERIÊNCIA VIVIDA NO PDT DE CRUZ DAS ALMAS, A SEGUIR RELATADA, APONTA PARA ESTAS AFIRMAÇÕES.

Abordagem Regionalista – Caminho mais Curto para a
Conquista do Poder a Nível Nacional –

Contribuição à Discussão sobre o Desenvolvimento do PDT
nos Níveis Local e Nacional*

Julho de 1993

Eduardo Ramos**

Sumário

1. Regionalismo como Instrumento de Estratégia Política.

2. O Papel da Estratégia Regionalista para o PDT no Atual Momento Político
Nacional

3. A Questão Regionalista dos Pontos de Vista Nacional e Local

4. Um Exemplo de Mobilização Política de Cunho Regionalista

5. Conclusão

6. Bibliografia

* Trabalho apresentado no Congresso Nacional do PDT 1991.

** Fundador do PDT no Município de Cruz das Almas, BA em 1986 e da Coordenação
Regional do Recôncavo Fumageiro (15 Municípios) em 1987; Professor, PhD,
da UFBA e da UEF

E-mail: elramos@atarde.com.br

Site : www.eduardolramos.com.br

1. Regionalismo como Instrumento de Estratégia Política

Os compromissos programáticos prioritários do PDT com as categorias sociais oprimidas, as crianças, os trabalhadores, a mulher, as populações negras e indígenas, podem logicamente ser estendidos, no plano espacial, às populações das áreas periféricas. Nestas vive o oprimido. Daí os programas de educação, de saneamento, etc. dos Governos Brizola no Rio de Janeiro se dirigir ás populações periféricas. Neste sentido a compreensão do sistema de centro-periferia, e sua transformação noutro harmônico e igualitário, deve salvaguardar a identidade do PDT em termos de usa proposta libertária, socialista. Pode atrair populações inteiras do interior, desprezado e sangrado, à caminhada do PDT ao poder; porque nestas populações as classes média e baixa sofrem os efeitos da diferenciação espacial. Isto é, o enfoque regionalista pode ser um instrumento de afirmação de categorias ou partes discriminadas no sistema político-econômico, e de fortalecimento do Partido como veículo da vontade popular. Uma região homogênea por suas características ecológicas e de formação histórica, freqüentemente apresenta-se politicamente frágil, fragmentada em um número de municípios que, individualmente têm pouca densidade política. O enfoque regionalista visa galvanizar forças atualmente dispersas mas fundamentalmente homogêneas.

2. O Papel da Estratégia Regionalista para o PDT no Atual Momento Político

A afirmação do Brasil como nação industrializada independente é um processo histórico que chegou a um momento de decisão: ou o País afundará ainda mais sob o domínio do capital internacional monopolista, quedando no modelo de desenvolvimento desigual nos planos inter e intranacionais, ou conseguirá um desenvolvimento industrial com autonomia para traduzir o crescimento econômico em termos de bem estar de toda a população.
O PDT tem agora a oportunidade de assumir o comando político da nação para realizar esta segunda alternativa. A oportunidade a curto prazo de assumir o comando político de forma efetiva é colocada pela candidatura do Partido à Presidência da República. Entretanto o Partido precisa resolver também, a curto prazo, a defasagem entre a viabilidade de uma candidatura vitoriosa à Presidência da República, e a incipiente estrutura partidária em alguns Estados.
A concepção regionalista é vista como um elemento de estruturação partidária, que pode contribuir para o PDT superar esta defasagem.

3. A Questão Regionalista dos Pontos de Vista Nacional e Local

O regionalismo é uma concepção e uma posição decorrentes do fato de que existem diferenças regionais, universalmente. As atividades econômicas, sociais e políticas se concentram de tal forma que a atividade da região central determina a natureza e o nível da atividade da região periférica. No Brasil isto ocorreu de forma a resultar, por exemplo, na situação do Nordeste do Brasil. Um sistema de centro-periferia se reproduz a nível subregional criando periferias das periferias e centros dos centros em tamanhos cada vez menores. Assim o Nordeste é periferia do Centro-Sul do Brasil, a nível nacional, assim como regiões interioranas do Nordeste são caudatárias dos centros urbanos maiores como as capitais dos Estados.
A experiência histórica tem mostrado que fatores econômicos e políticos conjugados têm reforçado ou acentuado a posição periférica do Nordeste e de outras periferias. Esta tendência concentradora a nível regional é decorrente da própria lógica do funcionamento do sistema político-econômico vigente e só poderá ser revertida no sentido de um crescimento harmônico e igualitário, por vontade, decisão e força política. Neste sentido, os primeiros a se mobilizar seriam, dentro do critério do interesse, a população das periferias, e dentro do critério ideológico, as lideranças políticas nacionais e locais.
4. Um Exemplo de Mobilização Política de Cunho Regionalista

A iniciativa de líderes Pedetistas da região do recôncavo fumageiro da Bahia, entre 1987 e 1990, em se posicionar em termos regionais, deveu-se a esta região ser órfã de representação política apesar de ter importância econômica, demográfica e potencial político significativos, como será visto.
Os 13 municípios que compõem a região fumageira do recôncavo baiano tem 6,4 por cento da área, 3,46 por cento da população e 4,8 por cento do eleitorado, da Bahia.
Entretanto, apenas 3 das 26 Microrregiões Homogêneas da Bahia têm mais votos do que a região fumageira. Elas são as Microrregiões de Salvador, Cacaueira e Feira de Santana.
A região tem sofrido de todos os males das regiões mais subdesenvolvidas do mundo, apesar de ser privilegiada em termos de condições ecológicas e de solos para a agricultura e localização em relação a mercados e vias de escoamento de produtos. Tem sido submetida ao processo de dependência do capital mercantil internacional oligopsônico ou monopsônico do fumo em folha, por mais de um século e meio; estagnação econômica crônica prolongada num contexto de uma economia agrícola minifundiária de subsistência ou submissa ao capital mercantil monopsonistra; crescimento urbano baseado no êxodo rural, num setor de serviços predominantemente público, e em atividades comercial e industrial de porte pequeno. Os mecanismos de transferência de renda para outras regiões do Estado e do País mantêm a capacidade de poupança e investimento da região insuficiente para gerar crescimento autosustentado.
Este quadro de insubsistência econômica tem sido corroborado pela situação de impotência política que por sua vez decorre do referencial político e partidário que temos tido.
A seguinte reprodução de carta da Coordenação Regional do PDT no Recôncavo Fumageiro (15 Municípios), às direções estadual da Bahia e Nacional, do PDT, visa dar uma idéia do potencial que este tipo de organização pode ter.

Eduardo Ramos
Coordenador da Regional do PDT/
Recôncavo Fumageiro (15 municípios)
C. Postal 49, Cruz das Almas, BA
CEP 44380, Tel. (075) 721-2256

Dezembro de 1988

Ao PDT Regional/BA e Nacional

Senhor Presidente,

Face ao recente resultado eleitoral para a Presidência da República, a Regional do Recôncavo Fumageiro está aqui expressando o ponto de vista da imprescindibilidade da organização do PDT/Bahia em termos de uma administração dinâmica. Isto se fundamenta nos seguintes fatos e questões:
1. A votação do PDT na Bahia foi baixa;
2. A votação obtida na Bahia foi devida apenas ao prestígio pessoal do candidato Brizola;
3. O desempenho da direção estadual do PDT durante os últimos três anos desgastou a imagem do Partido. Isto ocorreu em grau acentuado, a ponto de subtrair grande parcela de votos do candidato à Presidência;
4. A batalha eleitoral perdida em Salvador teve reflexos sobre o eleitorado do interior. Por exemplo, Brizola ficaria em segundo ao invés de terceiro lugar no Município de Cruz das Almas, não fosse os eleitores residentes em Salvador que votaram em Cruz das Almas e influenciaram o eleitorado em favor de Lula.
5. O resultado em Salvador e na maioria dos municípios do interior teria sido significativamente melhor caso a direção estadual tivesse mobilizado lideranças já existentes e atraído as legiões de simpatizantes de Brizola. Isto poderia ter sido feito sem gastos de recursos por parte da direção estadual; pelo contrário, aquelas lideranças e as legiões de simpatizantes teriam contribuído com recursos, inclusive financeiros, para a campanha. Foi o que ocorreu conosco da Regional do Recôncavo Fumageiro, que chegamos a fazer a única carreata regional em sete municípios e, a maior carreata em Cruz das Almas. Abrimos o maior e mais bem localizado Comitê Brizola em Cruz das Almas, etc…, com doações dos pedetistas e simpatizantes.

Saudações

Eduardo Ramos e Raul Menezes
PDT Coordenação da Região Fumageira

5. Conclusão

O reconhecimento da questão regionalista pelo PDT enseja a extensão dos compromissos partidários com os oprimidos (crianças, trabalhadores, mulheres, populações negras e indígenas e outros), ao contexto espacial do sistema de centro-periferia. Populações inteiras de regiões periféricas como o Nordeste, a nível regional do Brasil, e a região fumageira do recôncavo baiano, a nível subregional da Bahia, podem ser atraídas à caminhada do PDT ao poder; porque na periferia as classes média e baixa sofrem nos mesmos tempo e local, os efeitos da diferenciação espacial.

6. Literatura Consultada

Amim, Samir. “Unequal Development.” New York, Monthly Review, 1976.
Bahia, SEPLANTEC. Anuário Estatístico, 1983.
Bos, H.C. The Spatial Dispersion of Economic Activity. Amsterdam, North-Holland,
1965.
Cardoso, Fernando Henrique e Faletto, Enza. Dependencia e Dessarrolo en America
Latina. Mexico, Siglo Vientinno Editories, 1968.
Campello, Sebastião Barretto. Nordeste Quatro Séculos de Exploração. Recife,
Comunicarte, 1985.
Frank, Andre Gundar. “Capitalism and Underdevelopment in Latin America.” New York,
Monthly Review, 1969.
Jaguaribe, Hélio, et. al. La Dependencia Político-Economica de la America Latina.
Mexico, Siglo Vientinno, 1975.
Manifesto, Programa e Estatuto. PDT
Ramos, Eduardo Lacerda. The Impact of a New Economic Activity on Regional
Development: A Case Study of the Coffee Industry in Northeastern Brazil.
Madison, University of Wisconsin, 1980, Tese do Doutorado.

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Desenvolvimento da Sociedade

Apresentação:

Muitas pessoas têm dificuldades em compreender acontecimentos que afetam suas vidas, no dia a dia e ao longo dos anos.

Este texto sobre “Desenvolvimento da Sociedade” pode ajuda-las, colocando as definições e esclarecimentos sobre componentes históricos, políticos, socioeconômicos, etc., sobre o assunto.  Esse texto faz parte de um livro que estamos preparando sobre “Desenvolvimento da Sociedade”.

Sumário:

Desenvolvimento da Sociedade

  • Sociedade
  • Relações Sociais
  • Organizações Sociais
  • Comunidade
  • Grupo e Associação
  • Família
  • Classe
  • Estado
  • Formação da Organizações Sociais (Família, Classe e Estado)
  • Instituição
  • Individuo, Sociedade e Moral
  • Civilização e Cultura
  • Sociedade Humana e Sociedade Global
  • Mudança Social
  • Teorias sobre Mudança Social
  • Desenvolvimento da Sociedade

Desenvolvimento da Sociedade

Sociedade

Definição: A sociedade humana é um sistema complexo e em contínua transformação, organizado com usos e procedimentos que guiam e controlam o comportamento humano. A sociedade humana é composta de indivíduos da espécie humana que se comunicam e interagem numa rede de relações. O somatório de indivíduos de uma mesma espécie não é suficiente para constituir uma sociedade.  Nesta o indivíduo se expressa como um ser social, quando se comporta em relação aos outros indivíduos através de reconhecimento mútuo. Isto é verdadeiro para sociedades formadas por indivíduos de outras espécies como abelha, formiga, elefante, baleia, lobo, e inúmeras outras. O reconhecimento mútuo entre os indivíduos provém de uma consciência da semelhança.

Embora a semelhança proporciona o reconhecimento mútuo entre os indivíduos na sociedade, as diferenças existentes entre os indivíduos ou entre grupos de indivíduos contribuem para a existência de reciprocidades, complementaridades, ou trocas. É o caso de diferença de sexos na família, que é a primeira formação social a se desenvolver na história da humanidade. A diferença de sexo conflui com os interesses comuns em reproduzir a espécie, dividir o trabalho para obter alimento, proteger a família, e partilhar afeto. Também as diferenças entre os indivíduos como interesse, atitude, capacidade, e especialização no trabalho, leva a sociedade humana a ser mais complexa e mutável do que as sociedades de outras espécies animais como as das abelhas e das formigas.

Relações Sociais

Uma relação social existe quando o indivíduo está cônscio da presença e da semelhança do outro, havendo um reconhecimento mútuo entre os indivíduos, e quando há um senso de algo adquirido e desfrutado em comum. Nas sociedades humanas primitivas, comuns na pré-história, existentes na historia antiga, e sobreviventes até hoje como os índios da Amazônia, a consciência da semelhança se expressa em forma de relação de parentesco ou de sangue. O reconhecimento da semelhança tem historicamente ampliado do parentesco para a tribo, a cidade estado, a nação, e atualmente, para a comunidade internacional e a comunidade global ambiental.

As relações sociais são de natureza pessoal, impessoal, econômica, política, amigável, ou antagônica. Estas relações se realizam através de cooperação, de conflito, ou de ambos. Na cooperação as pessoas têm interesses harmônicos. Na cooperação direta os indivíduos desenvolvem a mesma atividade conjuntamente, como na construção de uma cerca ou no atendimento a uma pessoa acidentada; e na cooperação indireta os indivíduos realizam atividades ou tarefas diferentes para atingir um objetivo comum, a exemplo do trabalho numa fábrica, onde, pela divisão do trabalho em diversas tarefas especializadas, produz-se uma mercadoria. Já nas relações sociais realizadas por conflito as pessoas têm interesses desarmônicos e disputam algo de natureza escassa, como uma mercadoria ou uma posição de poder. Neste caso os indivíduos se apegam ao seu grupo e rejeita os estranhos ao mesmo.

As relações conflituosas entre pessoas, grupos, classes, ou nações, estão presentes continuamente no processo histórico e dialético. Estes conflitos são resolvidos através da imposição temporária das exigências da parte mais poderosa ou vitoriosa, ou da criação de dispositivos de separação, segregação ou exclusão do mais fraco, ou ainda pela superação do conflito pela descoberta ou reconhecimento, pelas partes, de um campo mais amplo de interesse. As sanções militares e econômicas sobre o Iraque na guerra do golfo pérsico exemplificam o primeiro caso. A segregação dos negros na África do Sul, nos Estados Unidos e em outros países, e dos Kurdos no Iraque e na Turquia é exemplo dos dispositivos de segregação e de exclusão. A união dos comunistas e nacionalistas chineses na guerra contra os japoneses na década de 40, a aliança entre a União Soviética com a França, a Inglaterra e os Estados Unidos na segunda guerra mundial, e a recente aproximação entre os Estados Unidos e a Rússia, podem exemplificar a solução de conflito pela descoberta de um campo mais amplo de interesse.

Organizações Sociais

Os costumes e procedimentos que guiam e controlam o comportamento humano na sociedade são realizados através de organizações sociais como a comunidade, o grupo, a associação, a família, a classe, o estado, e as instituições.

Comunidade

As comunidades são o vilarejo, a cidade, a tribo, a nação, ou mesmo um convento, uma prisão, agrupamento de imigrantes, uma área de vizinhança. A comunidade é um agrupamento de pessoas que têm vida comum em determinada localidade. A comunidade proporciona as condições básicas da vida das pessoas e pode abarcar todos os aspectos da vida social dos membros do grupo. Isto possibilita a existência de laços de solidariedade, de um sentimento comunitário, e de coerência na vida em comum.

As comunidades no mundo moderno são interdependentes devido aos meios modernos de comunicação e dos intercâmbios econômicos e culturais. A mobilidade das pessoas resultante do uso destas facilidades de comunicação contribui para a expansão dos limites físicos e psicológicos da comunidade. Um índio de uma tribo selvagem na Amazônia pode não se considerar brasileiro, peruano, ou venezuelano; já um ativista na defesa do meio ambiente residente no Rio de Janeiro pode se sentir cidadão do mundo; ou ainda um peão nos pampas se sentir gaúcho, e brasileiro ou argentino.

Grupo e Associação

Grupo é um conjunto de pessoas que estabelecem relações sociais pela realização de atividades em comum.  Nestas atividades as pessoas interagem e desenvolvem uma consciência do interesse comum.  Neste sentido a família, o grupo de trabalho, a turma do bairro ou da rua, a igreja, a nação, podem ser considerados grupos. Entretanto sob critérios de definição adicionais, o grupo pode passar a ter outra denominação, como comunidade, associação, e classe. No caso da comunidade inclui-se a característica de localidade. Já a associação é um grupo formado deliberadamente com objetivo em vista.

Quando a associação é informal, é dirigida por líderes naturais e funciona como meio de defender interesses comuns; quando formal, é uma agencia burocrática, com responsabilidades legais, dirigida por representantes, e intitulada a defender os interesses dos membros. Exemplos de associações são os sindicatos, as cooperativas, associações de moradores, etc.

Família

A família é uma associação de pessoas de sexos diferentes com o objetivo de geração e criação de descendentes. Para a criança a família é uma comunidade porque provê suas necessidades básicas e abarca todos os aspectos da sua vida social.

A família é o primeiro grupo a se formar na história da espécie humana, e desde então funciona sob a influência dos elementos sexo, reprodução e economia. Estes fatores interagindo, determinaram, através da história da humanidade, a transformação do sistema familiar primitivo de promiscuidade, no qual todo homem na tribo pertencia a toda mulher e vice-versa, para o sistema da família consangüínea ou extensiva, formada por clã de parentes de sangue com seus cônjuges e filhos, e mais recentemente para o sistema da família nuclear ou conjugal, constituída de pais e filhos.

As funções desempenhadas pela família são: a função biológica de perpetuação da espécie acompanhada da satisfação sexual dos membros do casal; a função econômica de manutenção da família com alimentação, habitação, proteção e educação; a função social de socialização das crianças e estabelecimento de posição de prestígio; e a função cultural de transmissão da herança cultural (científica, artística, e religiosa) da sociedade.

As funções da família são controladas pelo casamento. Este é a instituição de controle da associação familiar através do estado.  Ambos, instituição e estado, são definidos adiante neste capítulo. O controle das funções familiares pelo casamento se dá por contrato que regulamenta os seguintes aspectos: duração; idade mínima e grau de parentesco dos cônjuges; violações do contrato; responsabilidades econômicas dos cônjuges entre si e perante os filhos; e disponibilidade das propriedades dos cônjuges.

O interesse do estado em controlar a família reside na função desta na perpetuação da espécie e posição básica na estrutura da sociedade. Este interesse se reflete na ação de apoio do estado à família na sociedade moderna, quando o estado assume funções anteriormente exclusivas da família na área da educação, com os jardins de infância e escolas, da economia com o salário mínimo, o salário desemprego e programas de alimentos, da saúde, com as hospitais, clínicas e campanhas de vacinação, e na área cultural, com programas de recreação, esporte, arte e ciência. Este avanço do estado sobre as funções da família tem encontrado resistências, a exemplo da controvérsia sobre o aborto, porém tem se justificado devido às mudanças que a família tem passado com o processo de industrialização e urbanização da sociedade nos últimos 120 anos.

Classe

A Sociedade é estratificada num “continuum” de posições definidas por padrões de superioridade e inferioridade. Cada classe social ocupa uma destas posições denominada como posição social ou “status”. Esta estratificação coloca a sociedade como um sistema hierarquizado em que as classes são consideradas como inferiores ou superiores de acordo com alguns atributos sociais como consciência de classe, ocupação, riqueza, hábitos de consumo, herança de prestígio, filiação social ou participação de grupo, identificação própria, e reconhecimento de outrem. A distinção de classes inferiores e superiores tem sido feita por denominações bipartites como os pouco e os muito, gente e povo, elite e massa, livre e servo, rico e pobre, mandões e mandados, educados e não educados, produtivos e não produtivos, aristocrata e burguês, burguês e proletário; ou por designações tripartites como nobre, burguês e servo, e classes alta, média e baixa. Aristóteles dividiu a sociedade em muito ricos, muito pobres, e os intermediários (Aristotle, 1988:87); Adam Smith em os que vivem da renda da terra, do salário do trabalho, e do lucro de negócios (Smith, 1963:194); Thorstein Veblen em trabalhadores e classe ociosa (Veblen, 1973:33); e Karl Marx em trabalhadores (proletariado), capitalistas (burguesia), e um grupo intermediário (pequena burguesia) tendente a desaparecer (Marx and Engels, 1963:56).

Os indivíduos de uma classe social apresentam as seguintes características: têm consciência da existência da classe; consideram-se como iguais ou possuindo o mesmo status; e têm os mesmos padrão de vida ou poder aquisitivo ou oportunidade de obter bens, interesses econômicos, atitudes, valores, e estilo de vida. Estas características são responsáveis pela formação da ideologia e pela prática ou comportamento de uma classe social, que por sua vez diferenciam as classes sociais. A origem e diferenciação das classes sociais são tratadas adiante neste capítulo sob a denominação “formação das organizações sociais”.

Estado

O estado é um tipo de organização social. É uma associação que controla alguns aspectos das relações entre as pessoas numa comunidade. A amplitude e a profundidade do controle exercido dependem do grau de desenvolvimento da comunidade. Num pequeno agrupamento de famílias, como em comunidades pré-históricas, as relações entre os indivíduos são reguladas por uma opinião pública não organizada. O povo de Ona, na Tierra del Fuego, não tem forma alguma de liderança permanente (Lowie, 1940:288); ocasionalmente uma liderança emerge no grupo para enfrentar uma missão, após a qual a liderança cessa. Em comunidades mais desenvolvidas como as dos esquimós, ciganos e tribos indígenas, o controle é exercido por costumes e tradições sociais e através de autoridade reconhecida pelo grupo na pessoa de chefe de família, velho, curandeiro, ou chefe do grupo. Até este nível de desenvolvimento da comunidade o estado não se apresenta na forma de uma agência de controle social, com autoridade regulamentadora e um aparato de governo. Nesta última forma o estado se constituiu nas cidades estado da idade antiga, nos vales do Nilo e da Mesopotâmia, e na Grécia.

Como agência o estado é um guardião da sociedade, com autoridade constituída e declarada para criar e aplicar a lei. A lei é um conjunto de regras que os tribunais, ou agencias da lei, tomam conhecimento, interpretam e aplicam com o objetivo de mantém a ordem e a segurança social.  Assim o estado é uma associação peculiar no sentido de que abrange todos os indivíduos da comunidade. Nas outras associações um membro pode evitar o controle cancelando sua filiação. Entretanto o estado pode ter seu poder sobre os indivíduos ou cidadãos limitado por provisão constitucional, a exemplo dos casos das liberdades religiosa e de expressão do pensamento.

Algumas comunidades que constituíram as cidades estado expandiram-se por guerras de conquista e formaram impérios como os Egípcio, Babilônio, Persa, e Romano, que se caracterizaram como estados autocráticos. Estes resultaram, com a queda do império romano, no sistema feudal, descentralizado, formado por um grande número de comunidades pequenas. A aglutinação destas comunidades em estados nacionais foi proporcionada pelos grandes transformações econômicas e políticas a partir do século XV, ou sejam, a reforma protestante, o descobrimento e colonização da América e outras partes do mundo, a revolução comercial impulsionada pela descoberta das terras, a revolução industrial, as revoluções francesa e americana, as guerras napoleônicas, e as guerras de libertação anticolonial.

O estado nacional é uma organização política que visa manter paz e ordem interna, e defender a nação contra o ataque de outras.

No século XX o estado passou a desempenhar a função de promotor do bem estar social. A presença do estado na economia e na vida social geral se expandiu através do aumento de serviços efetuados por agências governamentais.

Os defensores do “laissez faire” propõem um mínimo de interferência governamental como benéfico à sociedade. Outros consideram o estado como um mal necessário para se manter a lei e a ordem. Marx e Engels prevêem que o estado torna-se desnecessário com o desaparecimento das diferenças de classes na sociedade.  Entretanto a presença do estado tornou-se ampla e direta nos países de economia de planificação centralizada como China, Vietnã e Cuba, e ampla mas indireta como nos países da Europa ocidental, nos Estados Unidos e no Brasil. É indireta no sentido do governo  prover a infraestrutura, os serviços básicos e os incentivos para o setor privado atuar.

As extensão e profundidade da atuação do estado na sociedade é uma questão polêmica em termos filosóficos, ideológicos e partidários. As funções do estado sujeitas à  polêmica são: manutenção da ordem; promoção da justiça; conservação dos recursos naturais; provisão de educação e apoio a ciência, arte e cultura em geral; controle de atividades artísticas e científicas; controle de opinião pessoal ou de grupo, de atitudes ou preferências morais, e de costumes populares.

Um ponto de partida para o esclarecimento destas questões é o estudo das origem e formação das organizações sociais, particularmente da família, das classes sociais, e do estado. Procuramos abordá-lo na seção deste capítulo denominada “formação das organizações sociais”.

 Formação das Organizações Sociais (Família, Classe, e Estado)

A família, as classes sociais e o estado, são organizações sociais que se formaram como resultado de transformações que historicamente ocorreram nas relações do homem com a natureza e com seu semelhante. Para nos informar sobre estas transformações, utilizamos a divisão da história da sociedade humana em épocas ou estágios denominados selvageria, barbarismo e civilização; e seguimos de perto a análise feita por Engels no livro Origem da Família, da Propriedade Privada, e do Estado.

Estes estágios se diferenciam pelo grau de domínio que o homem tem sobre a natureza e de complexidade nas relações dos homens entre si, na labuta para obter alimento e outros bens.  Assim, no período da selvageria o homem progrediu desde a simples coleta do alimento (frutas, nozes e raízes) para a captura de peixe e outros animais aquáticos e a utilização do fogo para preparar alimentos como a batata e o peixe em brasa ou em forno subterrâneo. Os alimentos aquáticos e o fogo possibilitaram ao homem se instalar em qualquer localidade independentemente do clima. Também neste período o homem inventou o arco e a flecha que transformaram a caça numa atividade regular; fez o machado de pedra; e construiu a canoa com machado e fogo. Algumas tribos de índios na Amazônia, na Polinésia e na Austrália ainda estão no estágio de selvageria.

No estágio de barbarismo o homem conseguiu as seguintes realizações: cultivar plantas e domesticar animais; fundir o ferro para a fabricação de machado, facão, bico de arado e outros utensílios e artefatos; praticar agricultura de larga escala, possibilitada pelos machado, facão e arado de bico de ferro puxado a boi, que proporcionou um suprimento ilimitado de alimentos; invenção e utilização do adobe secado ao sol e de pedra na construção de edifícios e muros com torres e vigílias para as cidades, do alfabeto e escritos literários inclusive os poemas Homéricos e a mitologia, de instrumentos fabricados totalmente com ferro, do fole, do moinho manual, da roda de cerâmica, da carroça, do carro de combate, e da construção naval com viga e prancha.  Estes avanços constituíram o legado do barbarismo para a civilização. Alguns povos que viveram esta época foram as tribos americanas à leste do Rio Mississipi; os índios Pueblo do Novo México; os povos do México, da América Central e do Peru, da época da conquista espanhola; Arianos e Semitas na Mesopoâmia, Índia e Europa; Gregos da Idade Homérica; Italianos anteriores à Roma; Alemães que conquistaram o Império Romano; e Nórdicos ou Vikings.

A civilização emergiu do estágio do barbarismo principalmente pela transformação da sociedade baseada em relações de parentesco ou sociedade de constituição gentia, em uma sociedade baseada na família monogâmica, em organização da produção destinada ao mercado, e na presença do estado.  A formação da sociedade gentia durante a selvageria e o barbarismo, e sua transformação em sociedade civilizada, contêm a formação da família, das classes sociais e do estado.

Durante todo o período da selvageria e a maior parte do barbarismo os agrupamentos humanos se organizaram na base da família poligâmica, e não existiam classes sociais nem estado. A mulher tinha posição social superior à do homem por duas razões: (1) tinha liberdade sexual igual ou superior à do homem, e (2) detinha maior autoridade decorrente da circunstância da maternidade dos filhos ser sempre identificável, enquanto a paternidade freqüentemente não o era, no sistema poligâmico.

No período de selvageria ocorreu o sistema de casamento em grupo, em que a mulher reconhece seus filhos e considera todas as crianças do grupo como filhos; somente a descendência do lado da mãe, ou a maternidade, pode ser comprovada; portanto somente a linha de descendência materna é reconhecida, e a herança obedece a esta linha. O casamento em grupo evoluiu do sistema mais primitivo em que todos os homens pertenciam a todas as mulheres e vice-versa, para sistemas em que o grupo se dividiu em subgrupos à medida em que os parentes mais próximos foram progressivamente sendo afastados de relacionamento sexual. Por exemplo, no sistema de família consangüínea, os subgrupos são formados de gerações diferentes; ou seja, uma primeira geração, seja pais e mães, formam um subgrupo de maridos e esposas em comum; seus filhos compõem um segundo subgrupo, também de maridos e esposas em comum; os netos destes formam um terceiro subgrupo… .  A família consangüínea, portanto, evitou relações sexuais entre pais e filhos. Um avanço seguinte no sentido da exclusão de relações sexuais entre parentes ocorreu com a formação de subgrupo formado de irmãs e primas que se casavam com uma turma de parceiros como maridos comuns, que não eram, necessariamente, irmãos entre si e não eram irmãos das esposas do subgrupo. O mesmo ocorreu com subgrupo de irmãos e primos a se casar com turma de parceiras. Ainda outro exemplo de divisão do grupo familiar é aquele em que uma tribo é divida em dois grupos que se casam. Cada homem de um grupo é marido de todas as mulheres do outro grupo, bem como cada mulher de um grupo é esposa de todos os homens do outro grupo. Neste caso ocorre relações sexuais entre pais e filhos, e irmãs e irmãos.

A exclusão de parentes próximos como parceiros sexuais levou à formação do sistema do par familiar, que prevaleceu na época do barbarismo. Neste sistema um homem e uma mulher, que não sejam parentes, formam um casal permanente. O homem, dependendo de suas condições econômicas, pode praticar a poligamia, enquanto a mulher é obrigada a ser fiel pela ameaça de punição severa em caso de adultério. No caso de separação, os filhos ficam com a mãe. Entre o sistema de casamento em grupo e o de par familiar, ocorreu uma forma intermediária em que tanto o homem quanto a mulher passaram a escolher parceiro favorito entre os vários parceiros que o sistema de casamento em grupo permitia.

O sistema de par familiar evoluiu durante o período de transição entre o barbarismo e a civilização, para formar a família monogâmica.

A evolução do sistema familiar, mencionada, e a formação das classes sociais e do estado fazem parte do mesmo processo de transformação da sociedade humana – processo que depende fundamentalmente da divisão do trabalho na sociedade, para a realização das tarefas caseiras e a obtenção de alimentos e outros bens.

O sistema do casamento em grupo constituiu uma sociedade que denominamos de sociedade gentia e que se formou na época da selvageria e continuou pelo período do barbarismo. Nesta sociedade como já mencionamos a mulher desfrutava de liberdade e autoridade, e o processo de produção de alimentos não demandava uma divisão de trabalho que dividisse a sociedade em classes sociais. Tal divisão ocorreu quando o aumento da riqueza criou novas funções a serem efetuadas no processo produtivo, e novos bens a serem apropriados pelos membros da sociedade. A riqueza cresceu com o aparecimento e desenvolvimento da criação de gado e da utilização dos produtos deste atividade, como o couro, o leite etc.; do cultivo de plantas como o milho e verduras; da produção de instrumentos feitos de metais; da arquitetura. A criação de gado possivelmente iniciou o processo de acumulação de riqueza operando mudanças na sociedade gentia, que resultaram na transformação da família matriarcal em família patriarcal e monogâmica por parte da mulher, bem como no surgimento de classes sociais e do estado. Até então a mulher possuía os utensílios domésticos e o homem os instrumentos de obtenção do alimento. Já com a criação do gado o homem ampliou sua propriedade passando à dono do rebanho. Quando este crescia mais rapidamente do que o grupo humano, tornou-se necessário mão de obra adicional para cuidar do gado. Esta foi obtida pela transformação dos prisioneiros de guerra em escravos. Assim surgiu a escravatura.  A propriedade de gado e escravos levou o homem a questionar a herança na linha materna a fim de garantir a transmissão desta riqueza a seus filhos. O novo poder econômico do homem, dado pela propriedade dos bens de produção lhe possibilitou derrubar o sistema matriarcal e implantar a família patriarcal. O homem passou a uma posição de supremacia em relação a mulher, que foi forçada à uma condição de servidão na atividade produtiva, e instrumento de reprodução da espécie e da satisfação sexual do homem – condição que se estendeu em diversos graus e formas até hoje.

A expansão da propriedade privada sobre os bens de produção entra em choque com a organização comunal da sociedade gentia. De forma que para garantir a propriedade e estendê-la contra a reação da sociedade gentia, surgiu o estado.

O máximo de complexidade e tamanho atingido pela sociedade gentia foi a confederação de tribos. Mesmo a confederação preservou as instituições de propriedade comunal dos bens e do processo democrático de decisões tomadas através de conselho de representantes com direito a voto, sendo permitida a participação de todos os membros da comunidade com direito a voz.  Na sociedade gentia a vida de comunidade tem um curso normal sem necessidade de aparato governamental; não há desigualdade econômica ou social; as decisões são tomadas em comum ou são condicionadas pelos costumes estabelecidos; e a comunidade cuida dos que não podem cuidar de si mesmos. O estado foi paulatinamente organizado para substituir as instituições da sociedade gentia, coerentemente com os interesses dos indivíduos que adquiriam novas riquezas como gado e escravos. Assim o sistema do povo em armas da sociedade gentia foi substituído pelo exército e pela polícia, que se destinaram a subjugar os escravos e garantir a apropriação privada da propriedade comunal do próprio povo ou de outros povos saqueados; o sistema de tomada de decisões da sociedade gentia foi substituído por aparato político burocrático e legal regulador das relações entre as classes superiores e inferiores; a igualdade entre os membros foi substituída pela desigualdade entre as classes dos proprietários e dos escravos e não proprietários.

A historia de Atenas, especialmente no período em que foi instituída a constituição de Teseu, ilustra a instalação do estado à custa da dissolução da ordem gentia. Estabeleceu-se um governo central em Atenas congregando as tribos em uma nação única; a população, independentemente do grupo familiar ou da tribo, foi dividida nas classes dos nobres, agricultores e artesãos; somente os nobres podiam ocupar posições no governo. A nobreza criou uma legislação sobre crédito agrícola que disciplinou o açambarcamento da terra dos camponeses pelos nobres. Os camponeses que perdiam suas terras por endividamento, eram reduzidos à servidão, tendo que pagar cinco sextos da produção agrícola como aluguel da terra; ou transformados em escravos, quando vendidos pelos credores; ou ainda tinham a opção de vender seus filhos como escravos para cobrir os débitos.

Este tipo de relação entre a nobreza e os camponês ocorreu mais tarde no Império Romano, e de forma semelhante onde o estado emergiu da sociedade gentia ou se implantou sobre ela.

Instituição

Instituição é um tipo de organização social que realiza as atividades que satisfazem as necessidades humanas. É um sistema de relações sociais e um sistema de comportamento. Estes sistemas resultam da experiência dos grupos sociais em se organizar para resolver seus problemas ou atender suas necessidades. A instituição como sistema é constituída de costumes populares e de leis que interagem na execução de funções. Estes sistemas têm estabelecidas formas e condições de procedimento na realização de uma função. Por exemplo, o casamento é uma instituição cujas formas e condições de funcionamento incluem namoro, noivado, contrato de casamento, cerimonias de casamento civil e religiosa, residência, relacionamento amoroso do casal, amor paternal, amor maternal, e amor filial, e cuja função é assegurar a perpetuação da espécie através da regulamentação das relações familiares.

Uma instituição funciona através de uma associação satélite ou algumas delas. Por exemplo, a instituição casamento é realizada pela associação família. Outros exemplos de instituições e correspondentes associações são: propriedade privada e empresa; constituição e estado; credo e igreja; eleição e partido político; greve e sindicato; ópera e teatro; aula e escola; futebol e estádio. Uma instituição encarna um interesse, uma idéia ou um conceito, num sistema de comportamento; já a associação é a organização que leva a cabo aqueles interesses, idéias, ou conceitos.

Quanto menos complexa for a sociedade maior será a importância dos usos e costumes nas atividades sociais.  Estes historicamente se diferenciam em instituições comunais, que por sua vez dão origem as suas associações. A instituição se diferencia dos usos e costumes na realização das atividades sociais, em grau. Usos e costumes representam formas de comportamento espontâneos e experimentais, enquanto a instituição estabelece, através de suas associações, comportamentos planejados, regulares e padronizados. Nas sociedades modernas a vida social é crescentemente institucionalizada.

Cada instituição tem um aparato burocrático constituído de regulamentos e de pessoal. Este desempenha a função de perseguir os objetivos da instituição e de preservá-la.

As principais instituições da sociedade moderna são formadas nos seguintes campos institucionais: familiar, político, econômico, educacional, artístico, ético, estético, religioso, militar, e recreativo.

Indivíduo, Sociedade e Moral

Vimos anteriormente que a sociedade é um sistema complexo no qual os homens se relacionam condicionados por usos e procedimentos realizados por organizações como a comunidade, o grupo, a associação, a família, a classe social, o estado, e as instituições. Consideraremos brevemente, agora, a questão do relacionamento entre o indivíduo e estas organizações ou a sociedade.

A natureza e a personalidade humanas são produtos sociais desde que o homem sempre viveu em sociedade, e a personalidade do indivíduo não se forma na ausência do convívio social. Isto é ilustrado por diversos casos estudados de pessoas isoladas da sociedade, como o caso de Anna. Ela…

Por ser produto do relacionamento e da herança social, a personalidade não descarta a existência da individualidade como expressão do indivíduo além da mera condição de membro da sociedade. Esta parte da condição do homem pode corresponder as suas energia e ação criativas.  A criatividade do homem é exercida ou sufocada dependendo da interação das suas atitudes, interesses e motivações com aqueles usos e procedimentos estabelecidos na sociedade. Quanto mais harmoniosa esta interação tanto maior será a liberdade dos indivíduos na sociedade. Neste caso os usos e procedimentos ou conjunto de normas são aceitos livre e conscientemente, o que corresponde a um comportamento moral. Consequentemente, moral e individualidade convergem no interesse da harmonia social.

Portanto podemos inquirir que uma situação de persistente desarmonia ou conflito social, como a que se caracterizou com a formação da família patriarcal e do estado, é imoral. O estudo da moral como “um conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente, que regulam o comportamento individual e social dos homens” (Vasquez, 1989:49)  pode qualificar estas questões sociais ajudando a compreendê-los no interesse do indivíduo e da sociedade.

Civilização e Cultura

Podemos aquilatar, agora, a arbitrariedade da divisão da história da sociedade humana nos estágios de selvageria, barbarismo e civilização. Dada a natureza evolutiva e dialética das mudanças históricas, elas não ocorrem sequenciadamente no tempo ou no espaço. Já vimos que atividades características da época da civilização ocorriam na época do barbarismo, como a agricultura em larga escala, e a linguagem escrita como meio de comunicação. Por outro lado, agora na época da civilização, existem na Amazônia, na Austrália e na Polinésia, povos remanescentes das épocas do barbarismo e da selvageria.

A cronologia dos estágios de selvageria, barbarismo e civilização, mostra-nos que de um total de quinhentos mil anos da vida do homem como espécie, os primeiros quatrocentos e noventa abrangeram a época da selvageria, os seguintes cinco mil, o barbarismo, os últimos cinco mil, a civilização, e destes, os mais recentes quinhentos anos, a civilização ocidental. É evocativo compararmos a extensão destes períodos com os 350 milhões de anos da presença da vida na terra e os 4000 milhões de anos da origem da terra.

O estágio de civilização foi atingido quando o homem conseguiu domesticar animais, praticar uma agricultura sedentária e utilizar a linguagem escrita. O avanço da civilização consistiu na descoberta, utilização e difusão de técnicas, instrumentos e formas de organização que lhe permitiram dominar a natureza e aumentar a população, formando uma sociedade cada vez mais complexa. Esta é a parte material da civilização, ou seja o conjunto de meios físicos que o homem utiliza para controlar suas condições de vida – meios físicos como as cidades, os meios de transporte, os equipamentos, edificações e construções no meio rural e o aparato das organizações sociais.

A parte material ou física da civilização é complementada por uma parte intelectual denominada cultura.  Fazem parte da cultura as crenças, os costumes, as leis, e os conhecimentos artístico e científico. Estes elementos são incorporados intelectualmente pelo homem e constituem capacidades e padrões de comportamento que compõem a cultura, e que podem ser transmitidos, através de símbolos, entre as gerações.

Em razão de fatores antropológicos combinados com outros geográficos e tecnológicos, diferentes civilizações se constituíram. Algumas desapareceram ou se descaracterizaram, como as civilizações Maia no México, Inca no Peru, a Minoana em Creta, e a Hohokam nos Estados Unidos; outras se transformaram pelo contato com povos diferentes, como a civilização Russa e a Japonesa que se ocidentalizaram; e algumas persistiram por milênios mantendo predominantemente características próprias, como a civilização chinesa até a revolução comunista em 1948.

O historiador Arnold Toynbee classificou 31 diferentes civilizações sem contar as que abortaram (Toynbee, 1972:11). Elas nasceram, desenvolveram-se e declinaram, e resultaram na civilização que vivemos.

Sociedade Humana e Sociedade Global

Nos últimos cinco séculos a humanidade ocupou completamente a superfície da terra e eliminou as distâncias físicas entre os homens através dos modernos meios de comunicação. Este progresso não resultou na união política. Pelo contrário, criou o poder de destruir completamente a civilização.

Arnold Toynbee afirma que “sem dúvida a humanidade vai se auto destruir a não ser que consiga se constituir numa única família” (Toynbee, 1972:10).

O fim da guerra fria, o agravamento da crise econômica e social da sociedade industrial, o progresso tecnológico e a questão ecológica, criaram um cenário para grandes transformações  que poderão conduzir a humanidade na direção desejada por Toynbee.

A questão ecológica criou a necessidade do homem estender sua “consciência da presença e da semelhança do outro” e o seu “senso de algo adquirido e desfrutado em comum,” ao ambiente natural como um todo, água, terra, ar, e seres vivos.

Considerando a sociedade humana e o seu meio natural ambiente como uma sociedade global, os homens poderiam buscar a superação dos conflitos da sociedade humana. Isto seria através do reconhecimento, pelas partes em conflito, do campo mais amplo de interesse na sociedade global.

Mudança Social

Mudança social são transformações nos procedimentos e costumes os quais guiam e controlam o comportamento humano na sociedade. O cenário para a mudança social se compõe dos seguintes elementos: (a) a natureza e a personalidade humanas são produtos sociais, conforme discutido anteriormente; (b) o ambiente em que o homem vive é constituído por uma parte natural e outra parte criada pelo próprio homem. Ambas as partes do ambiente são instáveis ou se modificam, fazendo com que a sociedade esteja sempre em mudança. Portanto a sociedade sofre um processo permanente de mudança, numa seqüência temporal.

As ciências sociais secundaram as ciências biológicas em buscar, no conceito de evolução, um ordenamento temporal da vida da espécie. Este conceito aplicado à mudança social, incorpora os seguintes elementos: (a) continuidade e direção da mudança; (b) variação quantitativa (aumento ou redução) com mudança de estrutura; (c) escalonamento em níveis tais como superior, inferior, mais alto, mais baixo, mais avançado, menos avançado, etc. Assim a evolução ocorre como um processo de diferenciação. Quando a diferenciação tem direção para cima obtemos um processo de desenvolvimento. Se acrescentarmos ao conceito de evolução um objetivo determinado subjetivamente por um ideal ou uma valoração ética, teremos um novo conceito ou o conceito de progresso. Neste a diferenciação resulta num escalonamento com as denominações de melhor ou pior.

Um nível alto de desenvolvimento social corresponde a um estágio superior de evolução mas não implica necessariamente que seja melhor em termos de progresso. Por exemplo, a população da cidade do Rio de Janeiro tem um grau de desenvolvimento industrial mais alto do que os índios de Amazônia mas isto não lhe garante que esteja socialmente melhor em termos de qualidade de vida. Outro exemplo pode ser o da Arábia Saudita que tem uma renda per capita alta mas a maioria do seu povo tem uma baixa qualidade de vida. (veja-se os dados da Tabela 2 na seção sobre Desenvolvimento, deste Capítulo.) Julgamento sobre progresso está mais no âmbito de ética do que das outras ciências sociais.

Teorias sobre Mudança Social

As causas e a direção do processo de mudança social têm sido apresentados na forma de teorias ou de hipóteses.

A idéia de mudança social como um processo permanente pode parecer óbvia ao público de hoje, mas foi popularizada somente a partir da segunda metade do século passado. Durante os quatro mil e quinhentos anos da idade antiga (4.000 A.C. à 500 A.D.), os mil anos da idade média (500 à 1.500 A.D.) e mais de três séculos da idade moderna (1.500 à 1850), predominou a concepção de que a vida do homem é determinada por força divina e poderá abruptamente desaparecer da face da terra.

A concepção de mudança social prevalecente na atual sociedade industrial moderna reflete a prática da mesma, em que a mudança é um processo permanente ou contínuo e inevitável. Do homem da caverna até hoje esta concepção foi se delineando de acordo com as transformações que trouxeram a sociedade até a atual fase.

O homem primitivo tinha conhecimento da existência de mudanças porém adotava uma atitude negativa em relação às mesmas. Predominava o culto da tradição, os costumes eram considerados como imutáveis, e a lei da tribo garantia a autoridade da tradição.

Na idade antiga, referente às civilizações do leste, China, Mesopotâmia, Egito, Mediterrâneo e Roma, prevaleceu uma teoria pessimista de que mudança leva a uma deterioração de bom para ruim, e daí para pior. A sociedade existiu inicialmente numa idade de ouro ou paraíso, donde decaiu. Platão (429-374 A.C.) e Aristóteles (384-322 A.C.) viam mudança como decadência e corrupção.

Baseados na observação dos fenômenos naturais como o movimento dos astros e o ciclo vital das plantas e dos animais, e em crenças religiosas, os pensadores antigos formularam a teoria de mudança cíclica. Esta postula que os eventos da história humana se repetem formando um circuito. Assim, o paraíso perdido reaparece e torna a decair, sucessivamente. Esta teoria teve grande influência entre os Gregos e passou para os Romanos, sendo adotada por influentes pensadores como Virgílio (70-19 A.C.), e Marco Aurélio (121-180).

O pensamento antigo sobre mudança atinge seu ponto de maior desenvolvimento na teoria da ascensão. Esta teoria teve o Grego Hesíodo (800 A.C.) como precursor, e foi desenvolvida pelos Epicuristas que formularam uma filosofia da história a partir da teoria atômica de Demócrito (470-362 A.C.). Postulou que o homem evoluiu do estágio de selvageria para o de civilização por seu próprio engenho. Mais tarde Lucrécio (95-52 A.C.) propalou a teoria, em Roma, e cunhou a palavra progresso.

A idade média, emergente da conquista do Império Romano pelos bárbaros germanos, experimentou um retorno ao domínio do pensamento místico. O sistema feudal de rígida estrutura social, e a ascensão da Igreja Católica sobre o Estado, resultou em atitude de indiferença em relação a questão das mudanças sociais. A autoridade eclesiástica impossibilitou qualquer desafio à doutrina católica de que o homem se realiza na eternidade e não nesta vida. Importantes formuladores desta doutrina foram Santo Agostinho (354-430), João de Salisbury (1115-1180), e São Tomás de Aquino (1225-1274).

O marasmo medieval da Europa foi quebrado pelo impacto da conquista Islâmica. Durante os séculos sete e oito os árabes conquistaram o norte da África inclusive o Egito, e partes da Índia, do Oriente Médio (Síria e Persia), da Ásia Central, e da Península Ibérica; assimilaram conhecimentos científicos e filosóficos de povos conquistados. Consolidaram uma ampla cultura nas áreas de matemática, astronomia, lei, botânica, química, geografia, filologia; e foram precursores de teorias sociais do século dezoito e da idade moderna através de trabalhos como Prolegômenos da História Universal do Tunisiano Ibn Khaldun (1332-1406). O método científico de observação, pesquisa e experimentação, desenvolvido pela cultura Árabe, representa a base da ciência moderna. A cultura Árabe, as cruzadas, a imprensa e a Renascença vieram tirar a Europa do torpor medieval para entrar na idade moderna.

A Renascença (1300-1600) representou uma negação da autoridade da Igreja ou da fé Cristã através de um retorno ao humanismo Grego. Machiavelli encarna o pensamento Renascentista sobre mudança social, quando considera Roma imperial como modelo de organização social e vê mudança como sinal de decadência.

A influência da cultura Árabe e a contribuição para o pensamento social de Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650), Fontenelle (1657-1757), A.R.J. Turgot (1727-1781) e Herbert Spencer (1820-1903), construíram a concepção moderna de mudança social como um processo natural, e permanente ou contínuo e inevitável. O método científico firmou-se como paradigma do pensamento social moderno deixando para trás o misticismo medieval e o humanismo renascentista.

A teoria, sobre mudança social, de maior influência no final do século IXX e no século XX é a interpretação antropológica da história (Fromm, 1991:13), desenvolvida por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Freqüentemente denominada materialismo histórico ou interpretação materialista da história, esta teoria avança na direção da concepção da capacidade do homem resolver seus próprios problemas. Por conseguinte excluiu ambos a metafísica e o idealismo da interpretação da história. Marx afastou a metafísica adotando o método dialético desenvolvido por Georg Hegel (1770-1831). Negou a concepção idealista defendida por Hegel de que mudança social é realizada pela razão ou espírito, afirmando que o fator determinante de mudança são as condições materiais da sociedade.

O processo dialético da história, segundo Marx, realiza-se através da contradição entre a condições materiais de produção, ou as forças produtivas, e as relações de produção. As forças produtivas são os instrumentos ou equipamentos, máquinas, construções, recursos naturais etc., que utilizados de acordo com o nível de tecnologia existente, constituem um modo de produção. Este é o modo de se produzir e distribuir os produtos utilizados pela sociedade, característico de determinado período histórico. O modo de produção determina as relações de produção ou relações de propriedade, que, por sua vez, constituem a superestrutura da sociedade incluindo-se as instituições jurídicas, políticas, religiosas, e a vida cultural ou intelectual, estética, espiritual, e filosófica.

A contradição entre as forças produtivas e as relações de produção são a tese e a antítese que superarão o conflito gerando uma síntese ou situação qualitativamente diferente da anterior. Este conflito surge quando as forças produtivas se modificam pela mudança das condições materiais de produção. Consequentemente as forças produtivas, ou a base da estrutura social, adiantam-se à antiga superestrutura que fica defasada e anacrônica em relação à primeira. Assim Marx identificou as fases históricas da sociedade humana pela transformação progressiva dos modos de produção Asiático ou antigo e do modo de produção escravista, em feudal, e deste em capitalista. O mesmo processo explica a mudança, em andamento, do capitalismo para o socialismo.

À superestrutura existente correspondem determinadas formas de consciência social. A partir do conceito de que o modo de produção da vida material determina todos os outros aspectos da vida da sociedade, Marx conclui que o ser social do homem determina sua consciência, e que esta não determina seu ser social. Portanto o homem conhece através de seu ser, ao invés de ser através do seu conhecer. Sobre isto Marx explica que “Contrastando diretamente com a Filosofia Alemã que olha do céu para a terra, nós miramos da terra para o céu. Isto é, nós não partimos do que o homem diz, imagina, concebe, nem do homem narrado, pensado, imaginado, concebido, a fim de chegar ao homem em carne e osso. Nós partimos do homem real, ativo, e na base do seu verdadeiro processo de vida, demonstramos o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e ecos deste processo vital”… “A vida não é determinada pela consciência, mas a consciência é determinada pela vida.” (Marx and Engels, 1972:47).

O sociólogo William Ogburn (1886-1959) formulou a teoria do retardamento cultural para explicar a mudança social na sociedade moderna. Distingue dois tipos de cultura, a material, composta de construções, máquinas, produtos industrializados, transporte, etc., e a não material, ou seja, governo, família, educação, religião, arte, e filosofia. Na sociedade moderna, o grande número de invenções resultante do avanço tecnológico, provoca mudanças no cultura material numa rapidez que não é acompanhada pela cultura não material, criando-se o retardamento cultural. A sociedade estaria se desenvolvendo ou progredindo quando a cultura não material ou as formas de pensar do homem, estivessem se ajustando ou acompanhando o avanço da cultura material ou da tecnologia. Exemplos de retardamento cultural são (1) devastação na riqueza do solo nos países industrializados causada pelo uso do trator na produção agrícola, (2) a existência de analfabetismo e fome na sociedade industrial moderna, e (3) a poluição urbana e a devastação das florestas resultante do crescimento econômico.

Desenvolvimento da Sociedade

Desenvolvimento social, ou desenvolvimento da sociedade, ou simplesmente desenvolvimento, é um processo permanente de mudança, numa seqüência temporal. Ocorre como um processo evolutivo e de diferenciação que gera crescimento e progresso. Conforme vimos em seção anterior sobre “mudança social”, é um processo que apresenta (a) continuidade e direção da mudança, (b) variação quantitativa (aumento ou redução) com mudança de estrutura, e (c) escalonamento em níveis tais como superior, inferior, mais alto, mais baixo, mais avançado, menos avançado, etc.

O desenvolvimento como crescimento expressa as mudanças materiais ou que podem ser medidas, como a produção e a renda, quando apresentam variação quantitativa positiva. Neste caso desenvolvimento pode ser mais apropriadamente denominado crescimento econômico. Já o progresso acrescenta ao crescimento econômico valoração ética sobre o caráter ou o objetivo do crescimento. Assim o crescimento econômico representa progresso quando resulta em melhoria das condições materiais e morais de vida da população como um todo, bem como de cada um dos seus membros. As condições materiais são aquelas que podem ser mensuradas diretamente como alimentação, vestuário, e habitação, e indiretamente como educação, saúde, segurança e equidade. As morais são liberdade, responsabilidade, dignidade, e justiça.

O conceito de desenvolvimento inclui ambos crescimento e progresso.

O crescimento econômico tem sido expresso pelo Produto Nacional Bruto – PNB ou o valor total da produção de bens e serviços de um país em um ano. Para se poder fazer comparações entre países o PNB é calculado em termos per capita e em moeda da aceitação ampla como o dólar.

Como a análise do desenvolvimento econômico de muitos países revelou que aumentos do PNB per capita não corresponderam à melhoria de vida da população como um todo, passou-se a buscar medidas mais completas do desenvolvimento. Assim passou-se a usar o Índice da Qualidade Física de Vida (IQFV) e o Índice de Nível de Vida (INV). O IQFV, desenvolvido por Morris (1979), mede a qualidade de vida em termos dos seguintes indicadores do nível de vida: expectativa de vida à idade de um ano, mortalidade infantil e alfabetização. Cada um desses indicadores é medido numa escala de 1 à 100, sendo que 1 representa a pior e 100 a melhor condição revelada pelo indicador. A média aritmética dos três indicadores é o valor do IQFV. Já o INV, desenvolvido pelas Nações Unidas (UNRISD, 1972), é um índice composto de desenvolvimento calculado na base de oito indicadores sociais mais nove indicadores econômicos. Estes indicadores econômicos e sociais de desenvolvimento, apresentados em UNRISD (1972:74,75), são os seguintes:

  • Expectativa de vida ao nascimento
  • Percentagem da população em localidades com 20.000 ou mais habitantes
  • Consumo diário de proteína animal, per capita
  • Matrícula primária e secundária conjunta
  • Taxa de matrícula vocacional
  • Número médio de pessoas por cômodo habitacional
  • Circulação de jornal por 1.000 pessoas
  • Audiência radiofônica por 1.000 pessoas
  • Produção agrícola por trabalhador agrícola masculino
  • Consumo de eletricidade, KWH per capita
  • Consumo de aço, Kg. per capita
  • Consumo de energia, Kg. de carvão mineral equivalente per capita
  • Comércio externo (soma de importação e importação) per capita
  • Percentagem da população economicamente ativa com eletricidade, gás, água, esgoto, etc.
  • Percentagem de trabalhadores agrícolas masculinos na força de trabalho masculina total
  • Percentagem de manufaturados no PNB
  • Percentagem de assalariados na população economicamente ativa total

Recentemente (a partir de 1990) as Nações Unidas lançou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) (UNDP, 1991) que se propõe a dar uma medida composta de desenvolvimento. O cálculo do IDH é semelhante ao do IQFV e do INV, porém os indicadores de desenvolvimento usados no IDH são (1) expectativa de vida, (2) alfabetização de adultos e número médio de anos de atendimento escolar, combinados, e (3) Produto Nacional Bruto (PNB) per capita.

 

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À OAB, CNBB, e VI Comando Militar

Como podemos nos ver livre da corrupção?
Em 1996 resolvi dar uma modesta sugestão, escrevendo a carta mostrada abaixo. Não a enviei, quando refleti que as forças políticas em ascensão poderiam resolver o problema. Ledo engano!
Consequentemente senti-me compelido a encaminhar a seguinte sugestão:

Cruz das Almas, Bahia, 04 de Julho de 2011

À OAB, CNBB, e VI Comando Militar

Cabe-nos, como deveres de consciência e do exercício da cidadania, transmitir à OAB, CNBB e Comando da VI Região Militar, a sugestão de que estas organizações criem uma comissão tripartite com a finalidade de acompanhar o impacto do desempenho das administrações municipais sobre a população.

Para facilitar o trabalho seria anualmente ou bianualmente escolhida uma amostra intencional de municípios nos quais existam evidencias claras de corrupção e/ou incompetência.

A razão principal desta sugestão advém da realidade, de conhecimento público e notório, de que a população depende dos investimentos e serviços públicos para sobreviver, enquanto existem fortes evidências de malversação escandalosa de recursos por administrações municipais.

A malversação de recursos tem permanecido impune devido à combinação de dois fatores: (1) fraqueza dos poderes públicos (executivo, legislativo e judiciário) em abordar a questão; e (2) fraqueza da sociedade civil organizada a nível dos municípios. Portanto a presença de organizações como a OAB, CNBB, e VI Região Militar, torna-se a única ocorrência a curto e médio prazos que pode mobilizar forças no sentido de enfrentar aquelas distorções da nossa vida pública, que têm infelicitado a população.

A Lei, a Igreja e as Forças Armadas são as instituições nacionais permanentes que, no momento, poderiam ou deveriam, a nosso ver, “dar uma mão” à população enquanto ela não tiver forças para enfrentar os corruptos e incompetentes que, traindo a confiança do povo, outorgada pelo voto, dilapidam no curto prazo de uma gestão ou de algumas delas, recursos vitais da população.

Atenciosamente,

Eduardo Lacerda Ramos
Professor Universitário

E-mail: elramos@atarde.com.br

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Poder na Polítca

Poder na Política1

“Poder na Política” pode ser considerado um texto complementar à “Moral e Política”, já exposto nesse site.

O Poder na Política é expresso sucintamente considerando-se “a caneta como mais poderosa do que a espada, vez que aquela se origina na mente enquanto esta decorre do mundo material”.

O argumento deste texto pode esclarecer o atual cenário político mundial, bem como o local, divisando alguma luz no fim do túnel.

1David R. Hawkins, M.D., PhD. The Hidden Determinants of Human Behavior. New York: Hay House, 2009, pp. 151-156. Traduzido por Eduardo Lacerda Ramos.

 

Poder na Política

Para entender melhor a diferença crucial entre força e poder e as implicações desta distinção para nossas próprias vidas, é necessário examinar o comportamento humano numa escala mais ampla. As interações entre os homens e os governos oferecem muitas ilustrações claras.

Observando a história de nossa perspectiva singular, seremos naturalmente advertidos sobre o exemplo poderoso dado pela Revolução Americana, que primeiramente estabeleceu formalmente a liberdade como um direito inalienável, criando um precedente para os próximos séculos. Princípios que calibram alto até 700 (nível de desenvolvimento da consciência medido em escala de 1 à 1000) afetam a humanidade por longos períodos  de tempo. A caneta é sem dúvida mais poderosa do que a espada – porque o poder vem da mente, enquanto a força é baseada no mundo material.

Um evento capital na história aconteceu no século XX através do poder de um homem: Mahatma Gandhi, um homem de cor e de pequeno porte físico, que superou o Império Britânico, então a maior força do mundo, que controlava dois terços do território mundial.

Gandhi não somente pôs o Império Britânico de joelhos, ele efetivamente pôs termo ao velho drama do colonialismo, e o fez simplesmente defendendo um princípio: a dignidade intrínseca do homem e seu direito à liberdade, soberania e autodeterminação. Fundamental para este princípio, na visão de Gandhi, era o fato de estes direitos chegarem ao homem em virtude da divindade de sua criação. Gandhi acreditava que os direitos humanos não são concedidos por qualquer poder terreno, porém está incorporado na própria natureza do homem porque são inerentes a sua criação.

Violência é força, mas desde que Gandhi esteve alinhado com o poder ao invés da força, ele proibiu todo uso de violência na sua causa. Desde que ele expressou princípios universais (que calibrou em 700), ele foi capaz de unir a vontade do povo. Quando isto acontece, o povo é virtualmente inconquistável. O colonialismo (calibrado em 175) é baseado no interesse próprio do país colonizador. Gandhi demonstrou, com o testemunho do mundo, o poder do desprendimento, versus a força do interesse próprio. O mesmo princípio foi também demonstrado dramaticamente por Mandela na África do Sul.

O poder consegue com facilidade o que a força não pode mesmo com extremo esforço. Portanto, na atualidade, vimos a rápida derrubada do comunismo na Rússia como uma forma de governo, depois de 50 anos do mais hediondo – e por fim ineficiente – confrontação militar da história. A ingenuidade política do povo Russo, por muito tempo usado pelo regime dos czares, não permitiu a ele a sabedoria cívica para entender que uma ditadura totalitária havia se estabelecido em nome do “comunismo”. Similarmente, o povo alemão foi enganado por Hitler, que subiu ao poder em nome do nacional socialismo, e estabeleceu uma virtual tirania. Uma característica distintiva de força na política é que ela não pode tolerar discordância. Ambos os regimes dependiam de uso irrestrito da força através de polícia secreta; Stalin, que também levou milhões à morte, apoiou-se na sua KGB, como Hitler usou a SS.

Adolf Hitler montou a maior máquina militar que o mundo jamais tinha visto. No plano simplesmente da força sua máquina era imbatível; entretanto ele não pôde derrotar uma pequenina ilha do outro lado do canal Inglês devido ao poder expresso por Winston Churchill, que uniu o desejo do seu povo através de princípios de liberdade e sacrifício altruísta. Churchill postulou poder, Hitler força. Quando ambos se encontram, o poder é imune à força.

A força é sedutora porque emana certo “glamour”, embora este “glamour” emane à guisa de falso patriotismo, prestígio ou dominação;    Concomitantemente o verdadeiro poder é frequentemente não glamoroso.

O que poderia ser mais glamoroso do que a Luftwaffe ou a Gestapo da Alemanha nazista durante a segunda guerra mundial? Estes grupos de elite representavam romance, privilégio, e estilo, e certamente tinham  enorme força a sua disposição, inclusive as mais avançadas armas do momento e um espírito de corpo que cimentava  sua presença. Tal é o “glamour” do formidável.

O fraco é atraído e pode até morrer pelo “glamour” da força. Como algo tão ultrajante como a guerra pode acontecer? A força frequentemente assume o controle, e o fraco é atraído por aqueles que aparentemente superaram a fraqueza. De que outra forma poderia uma ditadura ser possível?

Uma característica da força é a arrogância; poder é caracterizado por humildade. Força é pomposa; tem todas as respostas. Poder é inabordável. Stalin, que assumiu uma autocracia militar, entrou na história como um arquicriminoso. O humilde Mikhail Gorbachov, que usava um  terno simples e facilmente admitia suas faltas, recebeu o prêmio Nobel da Paz.

Muitos sistemas políticos e movimentos sociais começaram com um verdadeiro poder, porém com o passar do tempo, eles se tornam cooptados por individualistas e passam a depender da força até que entra em decadência. A história da civilização demonstra isto repetidamente. É fácil esquecer-se que a motivação inicial do comunismo foi um humanitarismo idealista como foi o movimento sindicalista nos Estados Unidos, até que se transformaram num refúgio de politiqueiros.

Para que se tenha uma completa compreensão da dicotomia que estamos discutindo, é  necessário  que se considere a diferença entre político e estadista. Políticos, agindo com esperteza, mandam pela força depois de galgar sua posição através da força da persuasão – frequentemente calibrando a um nível abaixo de 200. Estadista representa o verdadeiro poder, governando por inspiração, ensinando pelo exemplo, e se mantendo por princípios de valores evidentes. O estadista invoca a nobreza que existe em todo homem e os une através do coração. Embora o intelecto possa ser facilmente burlado, o coração reconhece a verdade. Onde o intelecto é limitado o coração é ilimitado; onde o intelecto é intrigado pelo temporário, o coração trata apenas do permanente.

A força freqüentemente depende da retórica, propaganda, e argumentos especiais para angariar apoio e dissimular motivações subjacentes. Uma característica da verdade, entretanto, é que não precisa de defesa; é inquestionável. Que “todos os homens são criados iguais” não requer justificativa alguma ou retórica de persuasão. É inquestionável como é errado matar pessoas à gás. Os princípios nos quais o poder se baseia nunca precisam de comprovação – existem sempre argumentos sem fim sobre se a força é “justificada” ou não.

É claro que o poder é associado com aquilo que sustenta a vida,  e força com aquilo que explora a vida para ganho de um indivíduo ou de uma organização.  A força é fragmentária, portanto enfraquece. Enquanto  o poder une, a  força polariza.

O poder atrai, enquanto a força repele. Porque o poder une, não tem inimigos, embora suas manifestações podem ser combatidas por descontentes oportunistas.

O poder serve outros, enquanto a força é egoística. O verdadeiro estadista serve ao povo; políticos exploram o povo para servir suas próprias ambições. Estadistas se sacrificam para servir aos outros; políticos sacrificam os outros para servir a si mesmos. O poder apela para o que há de mais nobre em nós; a força invoca o que há de mais baixo. A força é limitada, enquanto o poder é ilimitado.

Através da insistência de que os fins justificam os meios, a força troca nossa liberdade por facilidades. A força oferece soluções rápidas e fáceis.

Para o poder, os meios e o fim são os mesmos, porém fins requerem maiores maturidade, disciplina, e paciência, para que sejam alcançados. Grandes líderes inspiram-nos a ter fé e confiança devido ao poder de sua integridade e alinhamento com princípios invioláveis. Tais figuras entendem que não se pode comprometer princípios e ainda sustentar seu poder. Winston Churchill nunca precisou usar a força com o povo britânico; Gorbachov trouxe uma revolução total no maior monolítico bloco político do mundo, sem disparar um tiro; Gandhi derrotou o Império Britânico sem levantar uma mão em ódio.

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Olho da Sociedade sobre a Corrupção e a Violência

Olho da Sociedade sobre a Corrupção e a Violência

 

Em 5 de junho de 1996 redigimos a presente correspondência para apresentar à OAB, CNBB e Comando da VI Região Militar. Entretanto até hoje não a encaminhamos na expectativa do Cenário vir a melhorar em razão das mudanças políticas em andamento.

Como o quadro de corrupção e insegurança continuou a se agravar, passamos a ver como necessária a apresentação da sugestão.

 

À OAB, CNBB, e VI Comando Militar

 

Entendemos, como deveres de consciência e do exercício da cidadania, transmitir à OAB, CNBB e Comando da VI Região Militar, a sugestão de que estas organizações criem uma comissão tripartite com a finalidade de acompanhar o impacto do desempenho das administrações municipais sobre a população.

 

Para facilitar o trabalho seria anualmente ou bianualmente escolhida uma amostra intencional de municípios nos quais existem evidencias claras de corrupção e/ou incompetência.

 

A razão principal desta sugestão advém da realidade, de conhecimento público e notório, de que a população depende dos investimentos e serviços públicos para sobreviver, enquanto existem fortes evidências de malversação escandalosa de recursos por administrações municipais.

 

A malversação de recursos tem permanecido impune devido à combinação de dois fatores: (1) fraqueza dos poderes públicos (executivo, legislativo e judiciário) em abordar a questão; e (2) fraqueza da sociedade civil organizada a nível dos municípios. Portanto a presença de organizações como a OAB, CNBB, e VI Região Militar, torna-se uma ocorrência a curto e médio prazos que pode utilizar recursos e/ou mobilizar forças no sentido de enfrentar aquelas distorções da nossa vida pública, que têm infelicitado a população.

 

A Lei, a Igreja e as Forças Armadas são as instituições nacionais permanentes que, no momento, poderiam ou deveriam, a nosso ver, “dar uma mão” à população enquanto ela não tiver forças para enfrentar os corruptos e incompetentes que, traindo a confiança da população, outorgada pelo voto, dilapidam no curto prazo de uma gestão ou de algumas delas, recursos vitais da população.

 

Atenciosamente,

 

Eduardo Lacerda Ramos

Professor Universitário

 

E-mail: elramos@atarde.com.br

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FUTURO DOS SINDICATOS

O presente agravamento da crise do capitalismo suscita explicação sobre qual o comportamento esperado dos assalariados, que constituem a maioria da população economicamente ativa. As “Conclusões”* aqui apresentadas, dão contribuição rica e atualizada sobre “um novo papel” para o sindicalismo.

*Letizia, Vito. “Marx, os marxistas e a relação sindicato-partido-socialismo: seu passado e seu futuro.” “Conclusões”, p.p. 151-160. In Jorge Novoa (organizador). Incontornavel Marx. Salvador, EDUFBA, 2007.

Conclusões

1. Ainda é válido lutar por um sindicalismo “classista”? Evidentemente, a expressão decorre da teoria marxista das classes sociais.
Discute-se hoje se a classe operária de que falava Marx ainda existe. Sem dúvida, muita coisa mudou de lá para cá: diminuiu a proporção de operários industriais entre os assalariados, mudaram as formas de organização do trabalho e muitas outras coisas. O mais importante, porém é que o capitalismo continua vigente e a grande massa da população continua sendo constituída de assalariados. O mundo moderno ainda se divide basicamente entre proprietários de meios de produção e ofertantes de mão-de-obra.
Seja como for, uma liderança sindical autêntica não se define pela aceitação ou não da teoria marxista das classes sociais. A única coisa que realmente conta é a defesa encarniçada dos interesses dos trabalhadores que representa. Em termos bem simples: que seja honesta com a base que oficialmente representa, recusando o papel de apaziguadora de conflitos e, muito menos, de disciplinadora dos trabalhadores em proveito da lucratividade do capital. Sindicato é para defender a lucratividade do trabalho. Ponto. Isso já é marxismo mais que suficiente.
Uma mudança importante do mundo de hoje está nas formas de organização empresarial, que priorizam a valorização dos recursos humanos, a preocupação dos administradores modernos é fazer os empregados “vestirem a camisa” da empresa. Preocupação que decorre da necessidade de um alto grau de adaptabilidade dos trabalhadores à variação das atividades. As atividades repetitivas estão diminuindo em muitas empresas, devido ao desenvolvimento de máquinas “inteligentes” e das comunicações informatizadas. Logo, mão-de-obra polivalente e “criativa” está em alta; operadores de uma máquina só e especialistas de uma rotina só estão em baixa. E para conseguir criatividade dos funcionários, os empresários precisam hoje de um ambiente de trabalho mais distendido e mais participativo do que o dos tempos antigos.
Em princípio, nada contra. Não é inerente ao método marxista considerar os capitalistas como inimigos pessoais de cada trabalhador. Nem o trabalhador marxista precisa ser um sabotador. O antagonismo entre as classes, em termos gerais, não necessariamente impede um ambiente de paz nos locais de trabalho. A guerra nos locais de trabalho sempre começou com a pressão pela maximização do lucro. Quando não pressionados, os trabalhadores sempre desenvolveram atitudes espontâneas de colaboração, porque o homem é um animai social e tende ao convívio solidário.
Marx não concebia a hostilidade entre as classes como resultado de uma suporta “condição operária”, que tem preocupado certas correntes sociológicas sem compromisso com o método marxista. Em geral os trabalhadores acham sua condição social perfeitamente normal; e querem mesmo é levar sua vidinha em paz. Quando isso se torna difícil é que vem o conflito, e com ele a hostilidade entre as classes.
O marxismo pode até aguçar o conflito entre as classes ao organizar os trabalhadores em defesa de sua vidinha normal. Mas não partir de uma oposição de idéias para atrapalhar a vidinha normal c com isso criar o conflito. Marx via a lula de classes como um conflito de interesses materiais opostos; não como um confronto entre uma suposta “concepção proletária do mundo” e a ideologia burguesa. Assim, se os atuais avanços tecnológicos permitirem melhor relacio¬namento dentro das empresas, os marxistas não precisarão adoecer de desgosto por isso. Todos podem ficar felizes, marxistas inclusive, enquanto o bom relaci¬onamento não significar trabalho gratuito além do horário ou aumento da pro¬dutividade sem efeito na remuneração do trabalho.
Os fatos recentes, entretanto, têm mostrado que as inovações nos métodos administrativos se dão no contexto de uma evolução econômica global que di¬minui o número de beneficiados com as inovações e ameaça conquistas sociais anteriores. As empresas querem pagar salários mais variáveis e contribuições sociais menores. O estado de bem-estar conquistado em países centrais após a II Guerra mundial está sendo contestado (aliás, já sendo corroído). Os economistas bem pagos para demonstrar a racionalidade das decisões dos capitalistas explicam em coro (hoje em dia praticamente sem vozes discordantes) que o estado de bem-estar está falido e que muitas das conquistas sociais anteriores são insustentáveis face ao nível atual da competição internacional.
Não fossem os efeitos desmoralizantes do “socialismo real” desmorona¬do, os trabalhadores estariam talvez melhor lembrados de que foi sempre em nome da competição que os capitalistas tentaram empurrar o nível de vida dos assalariados para baixo, desde que existe capitalismo. Estariam também lem¬brados de que produção competitiva ocorreu no passado combinada com níveis de vida muito variados. E que não há teoria científica que defina uma relação necessária entre produção competitiva e nível de vida. Isso é sempre uma ques¬tão de escolhas políticas e de relação de força entre as classes.
Quando o capitalismo não consegue mais produzir sem baixar o nível de vida geral é hora de mudar o funcionamento do sistema, não o nível de vida. Quer dizer: é preciso defender primeiro o homem, depois o capital. Qualquer sindicalismo viável (marxista, classista ou simplesmente bom) não pode renun¬ciar a essa ordem de prioridades.

2. Uma vez definido que os sindicatos necessitam manter suas reivindica¬ções numa perspectiva que vá além da lógica capitalista, torna-se óbvio que a completa independência em relação ao estado capitalista e aos patrões deve ser um princípio fundamental do sindicalismo.
É esse princípio que define a relação entre sindicatos e partidos políticos. Se os sindicatos não podem enquadrar suas reivindicações nos limites estabele¬cidos pela lógica capitalista, fica automaticamente criada uma necessidade de diferenciar os partidos que defendem o capitalismo até o fim dos partidos que nasceram lutando contra os capitalistas. Sindicatos totalmente coerentes com os interesses dos trabalhadores não podem aliar-se a partidos representativos de interesses capitalistas. Mas podem, eventualmente até devem, aliar-se e ligar-se estreitamente a partidos surgidos das lutas dos trabalhadores. Nisso os assalari¬ados não precisam ser diferentes dos patrões, cujas instituições corporativas estão estreitamente ligadas aos partidos que defendem seus interesses.
Em relação aos partidos surgidos do movimento operário (não necessari-amente autoproclamados “marxistas” ou “socialistas”), os sindicatos devem manter-se autônomos. “Neutralidade” ou separação estanque seria absurdo, pelo simples fato de que os ativistas sindicais são inevitavelmente filiados ou simpa¬tizantes de partidos do movimento operário. Os sindicatos não podem, sem prejuízo próprio, dar aos ativistas sindicais o mesmo tratamento que devem dar aos políticos de partidos ligados a interesses patronais.
Autonomia sindical significa basicamente o seguinte: nenhuma decisão sindical deve ser tomada fora dos organismos sindicais. Não aceitar a tese de que sindicatos seriam “correias de transmissão” entre os partidos do movimento operário (que supostamente organizariam uma ”vanguarda”) e as “massas”.
Essa tese implica a idéia de que pessoas particularmente “conscientes” conhecem os interesses dos trabalhadores comuns melhor do que estes. Marx dizia que os comunistas se diferenciavam dos demais trabalhadores por ligar-se
sempre aos interesses mais gerais de sua classe, e não aos interesses particulares ou nacionais. (Manifesto do Partido Comunista.) Mas isso não quer dizer que os marxistas (ou “comunistas”, como Marx dizia) “sabem” melhor do que os pró¬prios trabalhadores quais são seus interesses gerais. Menos ainda que o partido marxista teria a “missão” de decidir em lugar e em nome dos trabalhadores, mesmo contra sua vontade majoritária.

3. A conclusão de que a democracia interna é vital para os sindicatos é uma decorrência inevitável de sua própria natureza de organizações para todos e necessariamente representativa de todos os assalariados. Isso no caso do sindicalismo ligado aos interesses de todos os assalariados.
Quando os capitalistas não podem impedir a organização dos trabalhado¬res, tentam criar organizações sindicais burocráticas ou burocratizar as já exis¬tentes. Porque sindicatos livremente organizados pêlos próprios trabalhadores sempre são perigosos para o capitalismo. Mesmo que não tenham uma proposta globalmente anticapitalista, são perigosos simplesmente por representarem a vontade autêntica dos trabalhadores.
Vontade autêntica só é visível em organizações onde reina plena democra¬cia interna. Logo. a luta pelo máximo de democracia interna pode ser simples¬mente entendida como a busca do máximo de eficiência como sindicato.
Entretanto, manter a democracia interna, evitando a burocratização dos sindicatos não é fácil. Porque sindicato tem que negociar com os patrões; nego¬ciar com os patrões implica algum reconhecimento legal; reconhecimento legal implica submetimento a certas normas estabelecidas pelo governo. E tais nor¬mas vão sempre no sentido de distorcer a representação dos trabalhadores ou de garantir a continuidade das direções mais acomodadas. Além disso, sindicatos legais tendem a acumular um grande patrimônio (principalmente onde há con¬tribuição sindical compulsória). E, com o tempo, o apego ao patrimônio do sindicato tende a prevalecer sobre o apego á representatividade autêntica.
Um modo usual de deformar a representarão sindical é tomar obrigatória a chamada “unicidade sindical”. Leis que impõem um único sindicato por cate¬goria e área geográfica, acompanhadas de contribuição sindical compulsória, são poderosos meios de burocratização dos sindicatos. Lutar contra isso é um imperativo, absoluto.
Os trabalhadores devem ter liberdade para forjar a união de todos os em-pregados de um mesmo patrão (ou do mesmo oligopólio), o que pode não coin¬cidir com uma única área geográfica e mesmo abranger mais de uma categoria.
Pois a união mais eficaz é sempre a união livre de todos que trabalham para a mesma instituição patronal.
Em qualquer hipótese, o essencial é que os sindicatos sejam organizados de baixo para cima, com inteira liberdade, e sejam sustentados pêlos próprios sindicalizados.

4. Para melhor representar e servir os trabalhadores, a forma de organiza¬ção sindical deve manter a direção constantemente próxima de suas bases, tor¬nando a representação mais direta, na medida do possível.
Isso implica não só cuidados com a ligação entre direção e base sindical, corno também uma lula por mais espaço de liberdade nas empresas. Os traba-lhadores devem ter liberdade para organizar-se dentro das empresas, com direi¬to a reunir-se nos locais de trabalho para eleger representantes de base.
É preciso não perder de vista que isso implica uma luta de grande enverga-dura. Os capitalistas não gostam de ter sindicato funcionando dentro de suas empresas; gostam menos ainda de ter organização sindical de base dando palpi¬te sobre decisões patronais.
Para isso os patrões e seus governos tentam manter uma separação nítida entre sindicalistas profissionais c trabalhadores comuns. E geralmente tem sido bem sucedidos nesse objetivo porque freqüentemente contam com a colabora¬ção de um sindicalismo deformado, mais interessado na representação legal (e no patrimônio) do que na representação autêntica.
Nas condições atuais da “modernização” capitalista, sindicatos burocráticos significam sindicatos impotentes. E os atuais ataques ao estado de bem-estar nos países centrais apoiam-se justamente na impotência dos sindicatos tradicio¬nais, burocratizados sob a influência da social-democracia e do stalinismo.
Tudo deve ser feito para que os trabalhadores comuns se envolvam na defesa de seus próprios interesses; e não apenas que o sindicato exerça a repre¬sentação legal. Essa luta poderá ser diferente de um lugar para outro, mas o princípio é o mesmo: participação da base ao máximo e representação o mais direta possível nos sindicatos.
Por isso, para lutar por maior espaço de liberdade sindical nas empresas, é necessário uma atividade política ampla, que defenda essa reivindicação junto à sociedade, como uma luta pela ampliação das liberdades’ democráticas em ge¬ral. Sindicatos mais democráticos e mais diretamente representativos (portanto, com mais espaço nas empresas) exigem uma sociedade mais democrática. Para cumprir essa tarefa, ampla demais para os sindicatos legais, a organização do movimento operário também em partido político é indispensável.

5. Em certo sentido, não deixa de ser verdadeira a afirmação corrente de que o velho sindicalismo tornou-se obsoleto.
O velho sindicalismo consiste, grosso modo, nas duas grandes ramifica¬ções do movimento sindical ‘livre” (mais ou menos): a corrente dita “comunis¬ta” (mais precisamente stalinista) e a corrente social-democrata; esta última dando origem a uma variante “neutra”. A corrente anarquista, que poderia ser considerada uma terceira ramificação, deixou de ter importância fora da Espanha, após a II Guerra Mundial. Todas essas correntes se originaram, direta ou indiretamente, do sindicalismo surgido no tempo de Marx.
A primeira corrente tirava sua força do prestígio da URSS como país em que, suposta mente, o “proletariado” estaria construindo uma nova sociedade, superior ao capitalismo. Errado ou certo, tal suposição dava aos militantes dessa corrente uma forte convicção anticapitalista, que impulsionava uma combatividade às vezes eficaz, sempre que sua cúpula burocrática estivesse interessada em liberar a combatividade dos militantes. Uma vez a URSS desa¬parecida e sua antiga burocracia (ainda no poder) transformada em burguesia ultraliberal e máfias diversas, o velho sindicalismo “comunista” ficou reduzido a seu esqueleto nu: uma burocracia que tenta sobreviver. E por isso é a corrente sempre mais disposta a defender os dispositivos legais que favorecem o sindicalismo burocrático e submetido ao estado capitalista.
A corrente sindical social-democrata (trabalhista na Grã-Bretanha e paí¬ses do “Commonwealth”) tirava sua força das conquistas sociais importantes que arrancou dos capitalistas, respeitando o sistema. A realização do estado de bem-estar em vários países deu-lhe autoridade e solidez. Entretanto, o estado de bem-estar está sendo questionado pelo pensamento econômico predominante hoje. Além, disso, há as transformações tecnológicas, a terceirização e o desapa¬recimento ou fragmentação de categorias profissionais antes importantes no movimento sindical. Tudo isso reduziu a corrente social-democrata a um sindicalismo minoritário, entrincheirado em categorias qualificadas e mais bem organizadas, que ainda resistem. Suas convicções capitalistas levam-na a confor¬mar-se com a restrição do bem-estar social a uma minoria; ao “possível” admi¬tido pelos ideólogos da nova “competitividade global”. Os sindicatos norte-americanos (variante “neutra” dessa corrente) têm seguido uma trajetória seme¬lhante, com algumas particularidades.
O resultado dessa evolução do velho sindicalismo é que, na atualidade, as grandes massas de trabalhadores- estão sem representação eficaz. E com isso a vida dos trabalhadores vai ficando cada vez mais difícil. Principalmente devido à ação de lideranças saídas do velho sindicalismo, que hoje proclamam a necessidade de “mudanças na mentalidade e na prática sindical”, cujo objetivo é uma reorientação rápida para o enquadramento voluntário nos limites exigidos pela “competividade global”. Tal reorientação é muito útil para manter essa gente na carreira de líderes profissionais. Para a maioria dos trabalhadores é um beco sem saída.
Hoje, o enfraquecimento dos velhos partidos políticos do movimento ope¬rário coloca a questão da representatividade de forma muito mais crua e direta do que no passado. Não basta mais ser “socialista” para representar os trabalha¬dores. Precisa representar mesmo. Precisa mostrar serviço organizando um flu¬xo de informações corretas aos trabalhadores (para contrabalançar o triunfalismo neoliberal da mídia). Precisa manter um funcionamento profundamente demo¬crático, que inspire confiança e atinja uma base muito mais ampla do que a atingida habitualmente pelo sindicalismo tradicional. A rigor o sindicalismo necessário na atualidade não é essencialmente diferente daquele proposto por Marx. Só que agora a questão da autenticidade e profundidade da representação adquire forte preponderância sobre os aspectos ideológicos. Ao passo que, no tempo de Marx, a opção ideológica podia ser suficiente para agrupar grandes massas de trabalhadores, apesar das deficiências na ligação entre direções e bases, hoje sindicalismo forte só pode manter-se com representatividade pro¬funda e autêntica.

6. O desmoronamento dos “-ismos” do movimento operário coloca a luta pela defesa das conquistas dos trabalhadores em termos necessariamente práti¬cos. Não há mais ideologia de prestígio para defender as conquistas. Mas as conquistas precisam ser defendidas. Defendidas para todos; não para um núme¬ro cada vez menor.
Isso exige, por um lado, adaptar-se à desideologização do sindicalismo atual, não insistindo em prometer um “socialismo” que ninguém mais sabe o que possa vir a ser, ou “sabe” através de lembranças de um triste passado. Por outro lado, exige apresentar respostas práticas, porém amplas e fortes, próprias dos trabalhadores, que restabeleçam o vínculo entre a luta sindical e os movimentos sociais, coisa que antes era realizada pelos partidos de orientação socialista.
Bem entendido, desideologização deve implicar não só o abandono da falsa ideologia ligada ao “socialismo real”, mas também e principalmente rejei¬tar a ideologia da “modernidade” capitalista, que pretende associar os trabalha¬dores à busca da “competitividade” em detrimento das conquistas sociais para a maioria. Os defensores do capitalismo, milagrosamente revitalizados pela adesão de “socialistas” arrependidos e ex-burocratas de extração tanto política como sindical, estão tentando ocupar o vácuo ideológico em que está jogado o movi¬mento operário com a velha ideologia da “unidade de interesses” entre trabalha¬dores e patrões. Não dá para aceitar.
Com ou sem socialismo, os trabalhadores não podem renunciar à apresenta-ção de soluções próprias aos problemas econômicos que afetam toda a sociedade.
Por isso, contra o desemprego estrutural, causado pelo aumento rápido da produtividade, a solução dos trabalhadores só pode ser a recolocação da luta, por uma diminuição geral da jornada de trabalho; luta que permitiu vitórias importantes no passado e que deu origem a melhorias importantes no nível de civilização. Fábricas que antes tinham 30,40 ou 50 mil operários, hoje, graças à robótica, podem apresentar o mesmo volume de produção com apenas três mil ou dois mil operários. Diante dessa evolução, a resposta do capitalismo é ficar com três mil ou dois mil de cada trinta mil operários e deixar o resto na “assis¬tência ao desemprego” (quando existe). E, ainda por cima, diminuir os benefíci¬os sociais para todos, porque a contribuição dos empregados que ainda restam se torna insuficiente para manter aposentadoria e saúde pública decentes para todos. Essa não pode ser a resposta do movimento sindical.
Quando a produtividade aumenta muito, mais do que o tamanho do mer¬cado, não há como defender as conquistas sociais da maioria sem diminuição da jornada de trabalho. Isso pode diminuir a sacrossanta produtividade (em rela¬ção aos salários pagos); mas, em compensação, aumenta a massa de consumido¬res produtivos, que é o resultado mais conveniente para todos.
A produtividade atingida pela tecnologia atual já permite pensar na gene-ralização de uma jornada de quatro horas. Como e em quanto tempo se chegará a isso é uma discussão aberta. Mas nessa discussão os trabalhadores não ficam na defensiva. E podem falar em nome dos interesses gerais da sociedade, com a autoridade que isso dá. Contra uma produtividade que amplia a marginalidade social e a barbárie, o movimento sindical pode e deve opor uma produtividade com pleno emprego e civilização.
Alguns argumentarão que, para diminuir a jornada de trabalho, seria me¬lhor uma palavra-de-ordem mais elástica, como escala móvel de horas de traba¬lho. Infelizmente, essa palavra de ordem já foi usada e nunca funcionou. Em primeiro lugar porque é difícil impedir que o cálculo da jornada mais adequada ao emprego disponível termine sendo feito por economistas parciais e burocra¬tas escolhidos a dedo. Em segundo lugar, porque a jornada de trabalho, por natureza, não é muito “móvel”. Quem estiver trabalhando cinco horas por dia pode não querer voltar a trabalhar sete (mesmo ganhando mais) porque já ocu¬pou de algum modo aquelas duas horas. Não se pode tratar as pessoas como meros “soldados da produção”.
Não precisa cálculos complicados para descobrir que a produtividade, em termos gerais, teve um aumento gigantesco desde os anos 20 (quando adotou-se a jornada de oito horas na Europa). Já é tempo de exigir que a sociedade tire proveito disso em termos de tempo livremente disponível. Ainda mais quando a alternativa é um forte desemprego estrutural e uma imensa marginalidade soci¬al. Pode-se ser elástico ao máximo na discussão dos meios, modos e prazos para alcançar a jornada de quatro horas. Mas o objetivo deve ser simples e claro. E isso dá uma bandeira de caráter amplo e geral ao sindicalismo e ao movimento dos trabalhadores. Eles estão precisando.
Aqui é indispensável, um alerta sobre as discussões “técnicas” que fatal¬mente se farão sobre o assunto. Assim que uma central sindical importante propuser diminuição geral da jornada de trabalho, cairá imediatamente uma chuva de números, produzidos por economistas e instituições de pesquisa renomados, para “provar” que a proposta é economicamente “inviável”. Não será a primeira vez.
Quando foi proposta a jornada de dez horas, no inicio do século passado, surgiram numerosos estudos eruditos “provando” que a indústria iria à bancar¬rota maciçamente se a idéia fosse aceita. Quando começou a luta pela jornada de oito horas, no fim do século, despencou uma avalanche de análises “científicas” em contrário, inclusive levantando o problema dos possíveis efeitos deletérios da “ociosidade” em que cairiam os trabalhadores,se passassem a trabalhar “só” oito horas. A teoria econômica neoclássica, que nascia nessa época, aproveitou a discussão pura demonstrar “cientificamente” que a jornada de trabalho é fruto de uma “livre” escolha do trabalhador entre mais salário ou mais lazer, logo, não deveria haver lei sobre jornada de trabalho. Essa teoria continua em prestigio no pensamento econômico capitalista e continua sendo posta em pratica nas categorias menos organizadas, que ainda escolhem “livremente” entre a miséria ou trabalhar dez, doze ou mais horas por dia.
Não existe ciência neutra. Os sindicatos devem fazer seus próprios estudos e informar corretamente suas bases e a sociedade. Mas o melhor mesmo é confiar na organização dos trabalhadores.

7. Resumindo: em vez de lamentar o descrédito atual da bandeira socialista ou adaptar-se ao capitalismo vendendo sua alma, os sindicatos precisam hoje abrir um caminho próprio, que começa pela criação de uma representatividade mais direta, erguida desde a base nas empresas. Para alcançar isso, o método de Marx ainda é útil, desde que se tome o cuidado de não cair nos velhos chavões desmoralizados pelo “socialismo real”. Manter-se colado aos trabalhadores e não inventar “interesses históricos” para eles continua sendo um bom preceito de prudência, além de condizente com o marxismo.
Outro preceito de mesmo tipo é ligar os interesses dos trabalhadores aos de toda a sociedade; e não deixar-se encurralar no corporativismo mesquinho, o que exige uma bandeira ampla, como a da jornada de quatro horas. Nessa lula pode-se desenvolver também o movimento político dos trabalhadores, pois o debate social envolvido vai muito além dos limites sindicais.
Perdidas as bandeiras do passado, outra é preciso. A de hoje pode não prometer o paraíso, como as do passado. Mas se os trabalhadores a empunha¬rem, talvez alguns sonhos, que hoje parecem impossíveis, voltem a viver.

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Moral e Política – Capítulo do Livro “Ética” do Professor Adolfo Vásquez

Uma sociedade moderna e cada vez mais complexa requer um comportamento consciente do homem. O Professor Adolfo Vásquez mostra, nesta seção aqui apresentada do seu livro “Ética”, que na sociedade moderna os “homens necessitam da moral como necessitam da produção”. Portanto a análise das relações entre a moral e a política pode esclarecer o comportamento dos indivíduos e do governo que configuram o drama da nossa sociedade.

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