Poder na Política1
“Poder na Política” pode ser considerado um texto complementar à “Moral e Política”, já exposto nesse site.
O Poder na Política é expresso sucintamente considerando-se “a caneta como mais poderosa do que a espada, vez que aquela se origina na mente enquanto esta decorre do mundo material”.
O argumento deste texto pode esclarecer o atual cenário político mundial, bem como o local, divisando alguma luz no fim do túnel.
1David R. Hawkins, M.D., PhD. The Hidden Determinants of Human Behavior. New York: Hay House, 2009, pp. 151-156. Traduzido por Eduardo Lacerda Ramos.
Poder na Política
Para entender melhor a diferença crucial entre força e poder e as implicações desta distinção para nossas próprias vidas, é necessário examinar o comportamento humano numa escala mais ampla. As interações entre os homens e os governos oferecem muitas ilustrações claras.
Observando a história de nossa perspectiva singular, seremos naturalmente advertidos sobre o exemplo poderoso dado pela Revolução Americana, que primeiramente estabeleceu formalmente a liberdade como um direito inalienável, criando um precedente para os próximos séculos. Princípios que calibram alto até 700 (nível de desenvolvimento da consciência medido em escala de 1 à 1000) afetam a humanidade por longos períodos de tempo. A caneta é sem dúvida mais poderosa do que a espada – porque o poder vem da mente, enquanto a força é baseada no mundo material.
Um evento capital na história aconteceu no século XX através do poder de um homem: Mahatma Gandhi, um homem de cor e de pequeno porte físico, que superou o Império Britânico, então a maior força do mundo, que controlava dois terços do território mundial.
Gandhi não somente pôs o Império Britânico de joelhos, ele efetivamente pôs termo ao velho drama do colonialismo, e o fez simplesmente defendendo um princípio: a dignidade intrínseca do homem e seu direito à liberdade, soberania e autodeterminação. Fundamental para este princípio, na visão de Gandhi, era o fato de estes direitos chegarem ao homem em virtude da divindade de sua criação. Gandhi acreditava que os direitos humanos não são concedidos por qualquer poder terreno, porém está incorporado na própria natureza do homem porque são inerentes a sua criação.
Violência é força, mas desde que Gandhi esteve alinhado com o poder ao invés da força, ele proibiu todo uso de violência na sua causa. Desde que ele expressou princípios universais (que calibrou em 700), ele foi capaz de unir a vontade do povo. Quando isto acontece, o povo é virtualmente inconquistável. O colonialismo (calibrado em 175) é baseado no interesse próprio do país colonizador. Gandhi demonstrou, com o testemunho do mundo, o poder do desprendimento, versus a força do interesse próprio. O mesmo princípio foi também demonstrado dramaticamente por Mandela na África do Sul.
O poder consegue com facilidade o que a força não pode mesmo com extremo esforço. Portanto, na atualidade, vimos a rápida derrubada do comunismo na Rússia como uma forma de governo, depois de 50 anos do mais hediondo – e por fim ineficiente – confrontação militar da história. A ingenuidade política do povo Russo, por muito tempo usado pelo regime dos czares, não permitiu a ele a sabedoria cívica para entender que uma ditadura totalitária havia se estabelecido em nome do “comunismo”. Similarmente, o povo alemão foi enganado por Hitler, que subiu ao poder em nome do nacional socialismo, e estabeleceu uma virtual tirania. Uma característica distintiva de força na política é que ela não pode tolerar discordância. Ambos os regimes dependiam de uso irrestrito da força através de polícia secreta; Stalin, que também levou milhões à morte, apoiou-se na sua KGB, como Hitler usou a SS.
Adolf Hitler montou a maior máquina militar que o mundo jamais tinha visto. No plano simplesmente da força sua máquina era imbatível; entretanto ele não pôde derrotar uma pequenina ilha do outro lado do canal Inglês devido ao poder expresso por Winston Churchill, que uniu o desejo do seu povo através de princípios de liberdade e sacrifício altruísta. Churchill postulou poder, Hitler força. Quando ambos se encontram, o poder é imune à força.
A força é sedutora porque emana certo “glamour”, embora este “glamour” emane à guisa de falso patriotismo, prestígio ou dominação; Concomitantemente o verdadeiro poder é frequentemente não glamoroso.
O que poderia ser mais glamoroso do que a Luftwaffe ou a Gestapo da Alemanha nazista durante a segunda guerra mundial? Estes grupos de elite representavam romance, privilégio, e estilo, e certamente tinham enorme força a sua disposição, inclusive as mais avançadas armas do momento e um espírito de corpo que cimentava sua presença. Tal é o “glamour” do formidável.
O fraco é atraído e pode até morrer pelo “glamour” da força. Como algo tão ultrajante como a guerra pode acontecer? A força frequentemente assume o controle, e o fraco é atraído por aqueles que aparentemente superaram a fraqueza. De que outra forma poderia uma ditadura ser possível?
Uma característica da força é a arrogância; poder é caracterizado por humildade. Força é pomposa; tem todas as respostas. Poder é inabordável. Stalin, que assumiu uma autocracia militar, entrou na história como um arquicriminoso. O humilde Mikhail Gorbachov, que usava um terno simples e facilmente admitia suas faltas, recebeu o prêmio Nobel da Paz.
Muitos sistemas políticos e movimentos sociais começaram com um verdadeiro poder, porém com o passar do tempo, eles se tornam cooptados por individualistas e passam a depender da força até que entra em decadência. A história da civilização demonstra isto repetidamente. É fácil esquecer-se que a motivação inicial do comunismo foi um humanitarismo idealista como foi o movimento sindicalista nos Estados Unidos, até que se transformaram num refúgio de politiqueiros.
Para que se tenha uma completa compreensão da dicotomia que estamos discutindo, é necessário que se considere a diferença entre político e estadista. Políticos, agindo com esperteza, mandam pela força depois de galgar sua posição através da força da persuasão – frequentemente calibrando a um nível abaixo de 200. Estadista representa o verdadeiro poder, governando por inspiração, ensinando pelo exemplo, e se mantendo por princípios de valores evidentes. O estadista invoca a nobreza que existe em todo homem e os une através do coração. Embora o intelecto possa ser facilmente burlado, o coração reconhece a verdade. Onde o intelecto é limitado o coração é ilimitado; onde o intelecto é intrigado pelo temporário, o coração trata apenas do permanente.
A força freqüentemente depende da retórica, propaganda, e argumentos especiais para angariar apoio e dissimular motivações subjacentes. Uma característica da verdade, entretanto, é que não precisa de defesa; é inquestionável. Que “todos os homens são criados iguais” não requer justificativa alguma ou retórica de persuasão. É inquestionável como é errado matar pessoas à gás. Os princípios nos quais o poder se baseia nunca precisam de comprovação – existem sempre argumentos sem fim sobre se a força é “justificada” ou não.
É claro que o poder é associado com aquilo que sustenta a vida, e força com aquilo que explora a vida para ganho de um indivíduo ou de uma organização. A força é fragmentária, portanto enfraquece. Enquanto o poder une, a força polariza.
O poder atrai, enquanto a força repele. Porque o poder une, não tem inimigos, embora suas manifestações podem ser combatidas por descontentes oportunistas.
O poder serve outros, enquanto a força é egoística. O verdadeiro estadista serve ao povo; políticos exploram o povo para servir suas próprias ambições. Estadistas se sacrificam para servir aos outros; políticos sacrificam os outros para servir a si mesmos. O poder apela para o que há de mais nobre em nós; a força invoca o que há de mais baixo. A força é limitada, enquanto o poder é ilimitado.
Através da insistência de que os fins justificam os meios, a força troca nossa liberdade por facilidades. A força oferece soluções rápidas e fáceis.
Para o poder, os meios e o fim são os mesmos, porém fins requerem maiores maturidade, disciplina, e paciência, para que sejam alcançados. Grandes líderes inspiram-nos a ter fé e confiança devido ao poder de sua integridade e alinhamento com princípios invioláveis. Tais figuras entendem que não se pode comprometer princípios e ainda sustentar seu poder. Winston Churchill nunca precisou usar a força com o povo britânico; Gorbachov trouxe uma revolução total no maior monolítico bloco político do mundo, sem disparar um tiro; Gandhi derrotou o Império Britânico sem levantar uma mão em ódio.
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