Terceira Mensagem de Copenhague

Eduardo Lacerda Ramos – Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia

18 de Dezembro de 2009

O debate e as preocupações sobre aquecimento global e mudança climática galvanizaram todo o pensamento humano sobre sobrevivência num pequeno espaço (Bella Center, Copenhague) e num tempo curto (7 a 18 de Dezembro de 2009). Confesso que a energia intelectual, humana, era imensa no Bella Center. Espero que minha carga dure até Dezembro de 2010 quando a conferência será no México.

O ano de 2009 foi nomeado o ano da mudança climática pelo Secretário Geral das Nações Unidas, Mister Ban Ki-Moon.

O objetivo da convenção sobre Mudança Climática foi muito claro e específico: manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2ºC relativa à níveis preindustriais; reverter rapidamente a tendência de aumento de emissões de gases tóxicos especialmente o dióxido de carbono (CO2); reduções de 50 – 80% são necessárias para se evitar impactos conturbantes da mudança climática nos sistemas ecológicos e socioeconômicos.

Para atender à ascendente demanda por energia, a produção e utilização de fontes de energia não renováveis, como petróleo, resultarão num aumento nas emissões de CO2, relacionada com a energia, em 55% em 2030 e 130% em 2050, comparada com 2005.[1]

O desafio enfrentado pela humanidade nos próximos 10 anos, inclusive na Convenção de Copenhague, é reduzir as emissões de gases, prover energia segura, confiável e acessível, enquanto se promove desenvolvimento econômico.

Os efeitos do aquecimento global estão batendo em todas as portas, a exemplo da recente crise de energia em Roraima pela redução de oferta de energia da Venezuela decorrente da redução do nível das águas de um rio, restando a possibilidade de se reativar uma usina termoelétrica, parada há dez anos, e, obviamente, altamente poluente.

A Dinamarca dá um bom exemplo de esforço em prol de uma sociedade de baixo carbono. Usa 19% da energia e 30% da eletricidade proveniente de fontes de energia renováveis como biomassa e turbinas eólicas. Para simbolizar o zelo pela causa ambientalista, o Governo Dinamarquês decidiu gastar o dinheiro, que seria destinado a presentes para os Delegados para a Conferência, com 15 bolsas de estudos sobre clima para estudantes brilhantes de várias partes do mundo.

Pode-se destacar alguns desenvolvimentos / condições na Dinamarca e outros países Europeus na utilização de energia limpa (a solar, por exemplo) que pode ser de interesse para a Bahia:

(a)   Da energia solar da ordem de 120.000 TW, pode-se aproveitar 20 TW com o nível tecnológico atual. A viabilidade econômica depende de pesquisa e aumento de produção (escala de produção).[2]

(b)  Uma política governamental inteligente consiste em programas de pesquisa e desenvolvimento e incentivos de mercado, esta que o Governo Wagner, na Bahia, está implementando através das Secretarias de Ciência, Tecnologia e Inovação e de Indústria, Comércio e Mineração.

(c)   O potencial de produção de energia do sol é dez mil vezes maior do que a energia que precisamos. Nas regiões desérticas e semidesérticas como o sudoeste dos Estados Unidos, o norte da África, a Austrália e o semi-árido do Nordeste do Brasil, a insolação corresponde a 1,5 barris de petróleo por metro quadrado e por ano.3 Acrescentamos o semi-árido, por conta própria, porque este não estava sendo cogitado como região de geração de energia solar.

(d)  Desde 1997 a União Européia vem buscando atingir um nível de oferta de energia renovável equivalente a 12% do consumo total em 2010. Tem conseguido resultados melhores que este, a exemplo de regiões da Espanha.

(e)   As Universidades desempenham papel de primeiro plano, a exemplo da Universidade de Roma Tor Vergata com o Centro de Energia Híbrida e Orgânica Solar.

(f)   Energia solar deverá ser gerada por usinas termo solar no norte da África e Arábia e transportada por cabos submarinos de alta voltagem para a Europa. O objetivo de longo prazo é satisfazer 15% da demanda européia de energia elétrica, com energia solar, no ano de 2050. Aqui no Nordeste do Brasil, poderemos almejar a produção de energia solar do Semi-árido para satisfazer a demanda de energia local e de outras regiões do país.

(g)  A experiência internacional, segundo se pode convir num evento do porte da Conferência de Copenhague 2009, sugere que a solução para a mudança do clima não pode ser somente solar, ou eólica, nuclear, biológica, etc., mas uma combinação delas. O Governo da Bahia está antenado, haja vista o incentivo que está dando à implantação de indústria de equipamento de geração de energia eólica etc.

Estes desenvolvimentos são bem vindos diante dos objetivos da Conferência de Copenhague.

As representações de países africanas e do Brasil ficaram decepcionadas com os resultados da Conferência. A China e os Estados Unidos consideraram os resultados como satisfatórios. Já os mais radicais, como o Green Peace, afirmam que o enfrentamento do aquecimento global vai exigir um modelo político radicalmente diferente do apresentado em Copenhague.

Apesar de apenas 28 países terem assinado o acordo, estabeleceu-se o compromisso de se reduzir emissões para evitar o aumento de temperatura acima de 2ºC, e que os países submetam metas de emissões até o final de janeiro de 2010.  Nossa interpretação é semelhante à de Obama, que se trata de um processo em curso dirigindo-se a um patamar mais alto.

Os países desenvolvidos se comprometeram prover recursos no montante de 30 bilhões de dólares ate 2010 –2012, e mobilizar conjuntamente 100 bilhões de dólares por ano ate 2020 para enfrentar as necessidades dos países em desenvolvimento.

Além das hostes oficiais em Copenhague, milhares de militantes aguerridos se posicionam diante do “establishment” com ímpeto como se fossem hostes de bárbaros sobre o Império Romano. Cinqüenta mil pessoas participaram da Conferência Alternativa “Klima Forum 09”, durante a Conferência; uma marcha de 40 a 100 mil em Copenhague exigia um acordo global sobre o clima, no dia 12 de dezembro, tendo 968 pessoas presas em Copenhague; vinte mil pessoas marcharam em Londres, uma semana antes da Conferência em Copenhague.

Daqui até a Conferência no México em Dezembro de 2010, esperamos que o clima das negociações evolua no caminho da racionalidade e na direção do novo paradigma científico ambientalista.

Concomitantemente estamos propondo que a Bahia se prepare, acelerando a construção de pólos sustentáveis de conhecimento em energia limpa e em uso das águas. O Parque Tecnológico da Bahia, em fase de construção, será instrumento decisivo neste mister.


[1] International Atomic Energy Agency. Climate change and Nuclear Power. Vienna, IAEA, 2009.

[2]e3 RTCC. Responding to Climate Change 2010. London, Entico Corporation, 2009,  p. 147.

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